2007/01/22

Lamento

Na minha secretária, o expediente atrasado de três semanas, os processos cujos prazos se hão-de esgotar nos próximos dias, pedidos de parecer sobre isto e aquilo, a revista da ordem dos advogados que folheio com manifesto desprezo. Como é possível um sujeito chamado não sei quantos da Costa Andrade, um rapazito imberbe que parece ter pouco mais de vinte anos, escrever sobre fraude fiscal com entusiasmo, puro e genuíno? Seguro um vómito que se assoma na garganta. Havia de ter sido cozinheira, jardineira, professora, malabarista, dona de casa, escritora de novelas de cordel, cabeleireira ou peixeira. Nunca isto que sou. Como é cruel, a vida. Crudelíssima. Nunca mais chegam as sete para enterrar o nariz nos sabonetes de sândalo, nos rebuçados de tamarindo e nos pacotes de tabaco de mascar que cheiram ao lado de lá.