2007/05/18

Toada

Não sei o que fazer com a tristeza quando ela toma conta de mim. Não a convido. Não sei por que vem, derramando tentáculos de dor. Sinto-a fisicamente, como se fosse um bicho, um parasita. Petrifica-me. Torno-me num cristal baço. Numa mancha de bolor. Numa estátua grotesca. Repelente. Torno-me numa fêmea de jacaré ou caimão. Sou uma fêmea de caimão. Sei, com precisão, onde, no meu corpo, se aloja a tristeza. Sinto-a aninhada na traqueia, perto da laringe e da faringe. Nas imediações da glote. Provoca-me náuseas. Vontade de vomitar, também. Hoje, durante o almoço, transformou-se em lágrimas e escorreu sobre a sopa de agriões.