2007/06/01

Chongqing

Hei-de morrer e renascer em Chongqing, entre florestas de betão e tocas de zinco. Habituar-me-ei a carregar baldes de cimento sobre os ombros. Hei-de sentir o corpo fisicamente cansado, ter calos nas mãos, o cabelo crespo, a pele baça de sujidade, os dedos dos pés muito separados, com fungos e bolores. Hei-de renascer em Chongping e aprender a comer de cócoras, encolhida, como se estivesse ainda no ventre da minha mãe. E a sorver, sem temer o ocidental embaraço, a sopa de massa, dando estalinhos com a língua, sorrindo com o conforto quente que há-de escorrer-me pelas goelas abaixo. Nos domingos, em Chogping, hei-de vestir uma blusa amarela, desbotada pelo tempo, com pavões desenhados. Apanharei o cabelo com um elástico. Passearei no parque onde as árvores largarão um cheiro enjoativo a fruta madura e os meninos comerão gelados de três sabores.