2008/09/29

2008/09/26

As cabras capadas (2)

O problema das cabras inférteis é serem cabras inférteis e analfabetas. Muitíssimo carolas. Umas aventesmas dotadas de uma carolice quase alvar, digna de piedade. Porém, se a gente pensar bem no assunto percebe que há nisto a mão divina. Aliás, quanto mais penso, mais sou levada a crer que Deus, Nosso Senhor, Pai de todos as criaturas terrestres, existe mesmo. Porque se Deus não dotou de fertilidade estas caprídeas mulheres (cujos balidos ecoam, em bando, furiosos, pela blogosfera, fazendo béééé) é porque, munido da sua grandiosa perspicácia, percebeu que as suas lanosas vaginas serviam para ser penetradas por apelativos caralhos, de glandes refulgentes e escrotos cheios, mas nunca, jamais, para franquear a chegada de crianças a este mundo. Há mulheres que não têm condições para educar uma criança. Deus, Nosso Senhor, percebendo isso, capou-as. E capou-as muito bem. Coitaditas. Tão desesperadas para ter um filhinho, pequenino e ranhoso, para amar e Deus, Nosso Senhor, esse malandro, esse monstro impiedoso, a não deixar.
(andei a ler os meus arquivos e descobri esta pérola de acrimónia. credo.)

As cabras capadas (1)

A minha irmã foi vilipendiada, no seu berloque, por um bando de cabras inférteis. É digno de se ler. É o que dá ter comentários no blog. Ter comentários num blog é o mesmo que deixar aberta a porta da nossa casa e deixar entrar no nosso espaço, mexer nos nossos objectos, gente que vai ao teatro ver espectáculos da Teresa Guilherme, gente que lê livros da Margarida Rebelo Pinto e afins, gente que gosta da Rita Ferro Rodrigues e da Margarida Pinto Correia, gente que participa em eventos como a mais bela bandeira do mundo, gente que vive em Agualva-Cacém e vai para Quarteira e Armação de Pêra passear, debaixo do ordinário sol algarvio, nalgas esturricadas, cheias de celulite e estrias. Eu não vou sequer ao blog da mana que é para não me irritar. Já me bastam as outras ralações da vida. O problema das cabras inférteis não é serem cabras. As cabras são até bichos engraçados, do meu agrado, dotados de uma altivez própria e genuína. Não é, claro está, serem inférteis. Infelizmente, como se sabe, a infertilidade é mal de que padecem muitas outras mulheres. É uma maleita injusta, tão pesada, dos nossos dias.

2008/09/25

Raiva

Muitas vezes, durante o verão, a propósito dos assaltos, sequestros e roubos, do insuportável pânico geral, do esperado gesto de sempre acusar o outro, lembrei-me deste brilhante filme de Mathieu Kassovitz. O que fazer quando a raiva nos consome?

2008/09/23

Lembrete

Tópicos: Pires, o braço direito do tio Vitalino, ex-pide, prestável, incomodamente simpático; negra albina da estação de Entrecampos; antigos prédios da Quinta do Mocho, descarnados, com as vísceras à mostra; Dean, o meu primo marinheiro de Nova-Deli que tem um filho chamado Ulisses; neuro-pediatras; as insuportáveis teorias que todos têm para explicar o olhar espantado do Joaquim.

2008/09/16

Chatice

Uma pessoa passa dois meses longe da blogosfera e quando volta percebe que nada mudou. Continua a mundana chatice, como diria o meu querido Fausto. Há blogs tão merdosos. Principalmente, e digo-o com pesar, os que são escritos por mulheres.

2008/09/15

Celacanto

O Joaquim chegou com as primeiras chuvas de Setembro. Chuvas ainda frágeis, tenras. Trouxe-me uma palavra medonha, uma palavra-pedra que me faz lembrar, não sei porquê, peixes pré-históricos, daqueles pesados que nadam rasteiros no fundo do mar. Deitado no berço da ucern, gigante entre as meninas prematuras que deslizam pelas mãos seguras das enfermeiras, olha o mundo com absoluto desinteresse.