Para além de exaltar muito rapidamente uma certa emotividade que, com o passar dos anos, tenho aprendido a conter, o álcool tem em mim um efeito devastador. Bebo até cair para o lado. Sozinha ou acompanhada. Não sou capaz de parar. No domingo, de ressaca, deitada na cama, senti que tudo em meu redor me oprimia: os livros em cima da mesa-de-cabeceira, a luminosidade frouxa a entrar pelas frinchas do estore, o mau cheiro dos lençóis, a memória das conversas da véspera. Afinal quem é a actriz europeia mais bonita? Por volta do meio-dia, depois de vomitar na banheira, percebi que não conseguia fazer o almoço para os meus filhos. Voltei a sentir-me a pior mãe do mundo. Telefonei ao Reinaldo e pedi-lhe que levasse os miúdos a almoçar fora.
- Que se passa?
- Estou doente.
- Estás doente?
- Estou.
- Com o quê?
- Estou de ressaca.
O meu ex-marido chegou pouco depois. Entrou no quarto, fez-me uma festa na cabeça e perguntou se precisava de alguma coisa. Disse-lhe que sim.