2016/12/20

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Fotografam-se poetas com os seus gatos e os seus filhos louros, espantosas e adoráveis criancinhas que comem compota de mirtilos ao pequeno-almoço, anunciam os escritores o seu sucesso, uma notícia ali, uma crítica acolá, um prémio de mil euros atribuído pela  Junta de Freguesia de Argoncilhe, caramba, caramba, como sou bom escritor!, lê a jovem poeta um poema do Carlos Drumond de Andrade com se fosse uma gata com o cio, mostra a menina poeta os livros que faz manualmente, folhinhas secas, florinhas secas e papel pardo, ai, que coisa mais bonita, rejubilam os leitores com os merdosos livros que leram, levam-se a sério os críticos que escrevem em jornais de referência, tão cheios de si próprios, fodendo os outros críticos que tentam escrever nos jornais de referência, gritam os deprimidos o seu desespero (por que não se matam?), escreve a professora de filosofia o seu diário, nunca revelando  um desespero, um orgasmo, o sufocar lento da solidão, passeios à chuva, isso sim, uma conversa de café, isso sim, um marmeleiro florido, isso sim, e é tudo e é tão pouco, indignam-se os medíocres, discutem os preguiçosos, grita o gigante de Gulpilhares que sabe escrever, ó, santo deus, se sabe!, pois se foi finalista daquele prémio literário, a culpa de não ser publicado é da editora com ar de sonsa que escreve letras para fados, mostra o editor velho, velhíssimo,  feiíssimo, a sua pescaria em São Tomé. Tudo isto comentam os pobres de espírito, de preferência com corações, risonhos e fiadas de pontos de exclamação.