São duas rãs
papua-nova-guineenses, espécie raríssima, o mais pequeno vertebrado do mundo,
foram descobertas recentemente por um cientista libanês que passou três anos na
floresta birmanesa, vivendo rente ao chão, por baixo de uma seringueira. O libanês
descobriu-as por acaso enquanto defecava junto a um formigueiro. Têm apenas cincos
milímetros!, disse o velho maravilhado, língua bífida, silvando de alegria.
Caminhou, sanfonando, até uma sala cheia de livros encadernados; iam os livros
do chão ao tecto, arrumados sem ordem, sem método, abandonados em estantes de
metal. O velho sentou-se numa secretária de teca, ligou um tablet de última
geração e pesquisou durante algum tempo. Duas iguanas plácidas mastigavam um
livro enciclopédico que tratava da reprodução em cativeiro de caimões.
Devoravam páginas amarelecidas. Perante a facilidade de acesso do saber
digital, permanentemente actualizado, os livros já não tinham outra serventia
que não fosse aquela: ser papados. As rãs caganitas-de-tucano, retomou pouco
depois o velho, são assim chamadas porque o libanês, a princípio, as confundiu
com os dejectos de tal pássaro; alimentam-se de mosquitos dim-dim, melgas
dom-dom e, sobretudo, de formigas azuis. Ora, formigas azuis não se encontram
por estas zonas, mas mosquitos dim-dim tenho-os à farta para alimentar o salamandrim
de cauda roxa. E saiu, deixando a mulher das narinas grandes sozinha na
biblioteca com as iguanas plácidas; entrou, pouco depois, com uma caixinha redonda
nas mãos.
Paciente, sentado
numa poltrona muito velha, pôs-se a enfiar num palito os mosquitos que ia
tirando da caixinha. Pediu à mulher para reclinar a cabeça levemente para trás
e ficar imóvel. Enfiou a espetada na sua narina direita. Puxou-a, depois, muito
lentamente, saíram as duas rãs agarradas ao palito, acastanhadas, muito lambareiras,
mastigando freneticamente com as suas boquinhas de anfíbio os tais mosquitos
dim-dim. A sua pequenez realmente impressionava. A mulher agradeceu ao velho
que, como paga, pediu para ficar com os minúsculos animais, com sorte, talvez
formassem casal, poderia fazer criação, ter ninhadas de caganitas-de-tucano. A
piton amarela e o crocodilo do Nilo certamente apreciariam o petisco. Eram os maiores
animais que viviam no apartamento. Gostavam de anfíbios pequeninos em geral,
mas tinham predilecção por sapos touro recém-nascidos, não eram de visão
agradável, translúcidos e pelados, mas tinham um sabor intenso, faziam lembrar
jaquinzinhos e petingas. Ele próprio não dispensava o pitéu. Comia sempre um
pires de sapinhos ao final da tarde acompanhado por uma cerveja bem
fresquinha. Os sapinhos touro, assim comidos, ao natural, sem louro ou
coentros, só uma pitada de sal, eram uma iguaria, reconhecia-o. Mas as
caganitas-de-tucano deviam ser melhores.