2012/06/29

Mulher-árvore (2)


São duas rãs papua-nova-guineenses, espécie raríssima, o mais pequeno vertebrado do mundo, foram descobertas recentemente por um cientista libanês que passou três anos na floresta birmanesa, vivendo rente ao chão, por baixo de uma seringueira. O libanês descobriu-as por acaso enquanto defecava junto a um formigueiro. Têm apenas cincos milímetros!, disse o velho maravilhado, língua bífida, silvando de alegria. Caminhou, sanfonando, até uma sala cheia de livros encadernados; iam os livros do chão ao tecto, arrumados sem ordem, sem método, abandonados em estantes de metal. O velho sentou-se numa secretária de teca, ligou um tablet de última geração e pesquisou durante algum tempo. Duas iguanas plácidas mastigavam um livro enciclopédico que tratava da reprodução em cativeiro de caimões. Devoravam páginas amarelecidas. Perante a facilidade de acesso do saber digital, permanentemente actualizado, os livros já não tinham outra serventia que não fosse aquela: ser papados. As rãs caganitas-de-tucano, retomou pouco depois o velho, são assim chamadas porque o libanês, a princípio, as confundiu com os dejectos de tal pássaro; alimentam-se de mosquitos dim-dim, melgas dom-dom e, sobretudo, de formigas azuis. Ora, formigas azuis não se encontram por estas zonas, mas mosquitos dim-dim tenho-os à farta para alimentar o salamandrim de cauda roxa. E saiu, deixando a mulher das narinas grandes sozinha na biblioteca com as iguanas plácidas; entrou, pouco depois, com uma caixinha redonda nas mãos.

Paciente, sentado numa poltrona muito velha, pôs-se a enfiar num palito os mosquitos que ia tirando da caixinha. Pediu à mulher para reclinar a cabeça levemente para trás e ficar imóvel. Enfiou a espetada na sua narina direita. Puxou-a, depois, muito lentamente, saíram as duas rãs agarradas ao palito, acastanhadas, muito lambareiras, mastigando freneticamente com as suas boquinhas de anfíbio os tais mosquitos dim-dim. A sua pequenez realmente impressionava. A mulher agradeceu ao velho que, como paga, pediu para ficar com os minúsculos animais, com sorte, talvez formassem casal, poderia fazer criação, ter ninhadas de caganitas-de-tucano. A piton amarela e o crocodilo do Nilo certamente apreciariam o petisco. Eram os maiores animais que viviam no apartamento. Gostavam de anfíbios pequeninos em geral, mas tinham predilecção por sapos touro recém-nascidos, não eram de visão agradável, translúcidos e pelados, mas tinham um sabor intenso, faziam lembrar jaquinzinhos e petingas. Ele próprio não dispensava o pitéu. Comia sempre um pires de sapinhos ao final da tarde acompanhado por uma cerveja bem fresquinha. Os sapinhos touro, assim comidos, ao natural, sem louro ou coentros, só uma pitada de sal, eram uma iguaria, reconhecia-o. Mas as caganitas-de-tucano deviam ser melhores.