Quero abraçar tempo e o espaço. Caminhar em silêncio e, como a mulher canhota, descalçar as meias para sentir o sol nos pés. A poesia, disse-me a santa quando cheguei perto da azinheira, está no piscar luminoso dos reclames antigos, no rosto do traficante, no sorriso do carcereiro, no buraco sujo, no sapato fedorento, nos dois afogados que deram à costa, na mulher que cuspiu no chão, em palavras simples, casa, cão, boca, fome, luz.