2015/04/18

Memórias

Ao fim da tarde, por volta da 16 ou 17 horas, a minha Tia Dé e a minha Avó Solange iam buscar-me ao colégio. A Tia Dé é a irmã da Avó Solange, ou seja, é minha tia-avó, mas é como se fosse uma avó para mim. Após um daqueles dias agitados, o choro logo pela manhã porque não me queria separar da minha mãe, a alegria presente nas brincadeiras, a raiva que aparecia na hora da sesta quando as educadoras me tiravam a chucha e eu me escondia debaixo dos lençóis a chorar, as minhas duas velhotas, por fim, iam buscar-me ao colégio.

Tinha quatro anos, portanto não me lembro de pormenores acertados, mas há algo que nunca esquecerei. Íamos sempre a pé para casa, nem uma nem outra tinham carta naquela altura, por isso era a única solução. Passávamos por várias quelhas, uma delas, do lado esquerdo, tinha um muro rosa claro com grades altas, através delas algumas das rosas vermelhas e vistosas floresciam cá para fora. Pedia-lhes sempre uma e elas davam-ma, mas antes, a minha Tia tinha que tirar todos os picos utilizando as unhas e as pontas dos dedos. Passávamos por mais umas quantas ruelas e finalmente estávamos na nossa casinha.

Elas faziam-me o lanche, era sempre uma grande caneca de leite com chocolate e uma torrada com manteiga ou bolachas Maria. Molhava as bolachas no leite e estas ficavam moles, mas deliciosas. A minha maior desilusão era quando metade da bolacha caía para dentro da quente bebida. Estava eu distraída com os desenhos animados e...plof! Lá se ia mais outra bolacha. Quando estava a acabar o leite, lá as encontrava, perdidas, moles e desfeitas. Por vezes, ainda as ia buscar com uma colherinha e enfiava-as para dentro da boca. Só de pensar nisso, passados quase dez anos, fico enjoada...

(Escrito pela minha filha Madalena que, desde o quinto ano, no ensino público, pois claro, tem tido extraordinárias professoras de português.)