Jogamos futebol na cozinha enquanto ouvimos o Frank Sinatra. Baliza a baliza. O combinado é, antes de cada remate, cada um ensaiar um passinho de dança. O Joaquim joga bem à bola e é um excelente dançarino. Fica o menino contente e eu também. Nos intervalos dos remates, danço agarrada ao meu filho, sinto-me feliz, e lembro o homem que amo. É um homem bonito. Parece que é feliz com uma mulher dez anos mais nova do que eu. Falava-me dos Cantos de Maldoror, de Lautréamont e eu, tola, deslumbrada, amava-o mais e mais e mais. Antes de o conhecer não gostava do Frank Sinatra e agora gosto. O João nunca me amou e, no entanto, estupidamente, sinto que me deu tudo, que nenhum outro homem me poderá dar o que ele me deu. Puta que o pariu.