2006/09/25

Catitas e felizes (1)

Raramente leio blogs. Aborrece-me a democraticidade da coisa. Todos opinam, todos escrevem, todos se metem numa espécie de montra, assim como as putas de Amsterdão, mostrando qualidades, erudições, trocando galhardetes, elogios, lincando histericamente, furiosamente, espampanantemente, mostrando vidas preenchidas, interessantes, divertidas, viajadas, cosmopolitas. Uma pontinha de irreverência aqui. Outra pontinha de irreverência ali. Já está. Está feito. Como somos catitas e felizes! Como sou amarga. Sempre que caio na asneira de passear pela blogosfera enervo-me. E eu não posso enervar-me porque, como diz a minha empregada, sou uma pessoa fraca dos nervos. Noutro dia, já nem sei por que caminhos lá fui dar, topei com uma tipa que se assumia como bibliófila (aquele que ama livros). Franzi de imediato as sobrancelhas e lembrei-me duma colega que alardeava aos quatro ventos o seu amor aos livros e de como um dia queria adoptar um pretinho. Era assim mesmo que ela dizia, um pretinho, um estafermo de um pretinho, um pretinho do Biafra, com uma barriguinha de fome, um pretinho, um pretinho, um pretinho, coitadinhos do pretinhos. Coitadinha era da amiguinha, senhora doutora, meretíssima e tal, com uma beca pregueada, feita numa costureira da Amadora, que tinha a boca cheia de dentes amarelos e dizia “drógado” e “vou fazer o comer”. Adiante.