2011/06/07

Toque não consentido

Aparece aos domingos para visitar a filha. Volta e meia, tenta beijar-me. Diz que ainda me ama. Toca-me como se fosse uma prostituta. Roça as mãos no meu peito e no meu rabo. Aproveita os momentos em que a filha está presente, mas distraída a olhar para a televisão ou entretida a alimentar o peixinho encarnado. Sabe que não gritarei para não a assustar. Quero poupá-la ao sofrimento e à minha miséria. São gestos que mal se notam, não deixam marcas visíveis, mas que ele executa com a intenção de me humilhar, de me paralisar, para mostrar que continua a ser meu dono. Peço-lhe para parar. Sei que queres, diz-me com despeito. Eu nunca quis. À despedida, volta a olhar-me como que a avisar és um corpo que me pertence. Quando a porta se fecha e voltamos a ser só nós duas, arregaço as mangas e mordo os braços até magoar. Tenho nojo do que fomos. Mas também tenho medo. Não é fácil a gente livrar-se do medo.