Amo o Sérgio Godinho. Amo-o com um amor antigo e intenso. Lembro-me de escutar o Barnabé na aula de português da professora Maria dos Anjos, no ciclo, e sentir um arrebatamento e um deslumbre. Fui crescendo e fui descobrindo as suas canções. Conheço-as de cor e só não gosto do Fugitivo e da Canção da Velha Mãe. Se o Sérgio Godinho quisesse, casava-me com ele e cuidava dele na velhice que vem chegando. Perdoo-lhe tudo, até o facto de ter escrito canções para todas, Etelvinas, Carolinas, Paulas, Fátimas, Alices, e nunca ter escrito para as Anas desta vida (a Valsa da Ana não conta por razões óbvias). Aos vinte anos, odiava a Sheila e todas as legítimas que teve. Embalei os meus filhos a cantar as suas canções. A minha filha sabe de cor a Etelvina e anda a aprender o 2º andar, Direito. O Joaquim pede a Maré Alta, o Charlatão e o Coro das Velhas. O João finge que já não gosta das suas canções e eu permito-lhe esse fingimento. Os três gozam descaradamente comigo quando me vêem amarinhar pelo sofá para dar beijinhos às fotografias dele que estão penduradas na parede. Quando estou triste, acontece muitas vezes, a minha filha põe-no a cantar na cozinha e o meu coração alegra-se. Eu tenho a vida partida em mil pedaços, cola-a tu com dois abraços. Nunca serei capaz de amar um homem como amo o Sérgio Godinho. É um amor absoluto, inquestionável, perfeito, um amor de menina que nunca amadureceu. É por tanto o amar, tanto dele precisar, tanto o querer, que não tecerei nenhum comentário ao novo disco. Acesso bloqueado.