(Estou completamente viciada no Roque Popular, sobretudo, na Luzia, tão linda esta canção, hei-de tê-la ouvido mais cem vezes, hoje. E, em Agosto, falta pouco, volto à minha aldeia alentejana, que tem festa com frangos assados, baile, festeiros e festeiras, a Marisa cabeleireira, tão jeitosinha, e a Luísa nojenta, de tacões de madeira e blusas transparentes, puta da Luísa - gorda e loira, tinha de ser loira, deslavada, imbecil, as loiras são quase sempre assim, convencem-se de que a palidez lhes mascara a primitiva insignificância - roubou o namorado à minha prima Filomena, a maior suinicultora do litoral alentejano; em Agosto, a festa em S. Bartolomeu da Serra tem leilões de garrafas de vinho do porto e leitões, uma mulher de olhar permanentemente espantado, contam que foi resquício de mal de amor, também lá está a prima Laura, sentada a uma mesa de fórmica, umas vezes triste, outras alegre, nunca se sabe como está, é como calha, que a bipolaridade não é doença só de gente de inteligência superior, também marca os outros. Eu, entre eles que me recebem sempre com distância, danço com este e com aquele, os meus filhos correndo no adro da estação, descansando por fim em colos negros, alapando na Virtuosa e na Preciosa. Os meus avós, José e Felicidade, largam a cova nessa noite para ver os bisnetos. Sou menos infeliz em Agosto porque os sinto. Quis-lhes tanto. Quero que os meus filhos amem os meus pais exactamente como eu os amei. Como se pode gostar da merda do Algarve, havendo o Alentejo?)