Gostava de passear com os filhos nos jardins e parques da cidade.
Procuravam rãs, patos, borboletas, lagartas, chapins, libélulas, papagaios.
Cheiravam flores, sementes, folhas, caules, raízes, paus. Espreitavam grutas,
tocas, troncos, lagos, todos os recantos sombrios, bons para namorar. Na
primeira tarde de sol, a filha lendo na sombra de uma árvore, os mais pequenos
esbulhando um formigueiro com varas fininhas de amieiro, no meio das ervas
altas dos clorófitos, Aninhas encontrou um trevo de quatro folhas. Quando se
preparava para o arrancar, notou o seu reflexo nas vidraças da biblioteca que
ficava no meio do parque: um corpo deslassado do resto, um fruto maduro prestes a apodrecer. Fechou os olhos e desejou: nunca mais a força bruta, quero apenas
o prazer, sem o sofrimento da paixão, sem o aborrecimento do casamento. Voltou
a abrir os olhos e procurou os filhos. Meteu o trevo à boca e mastigou-o.