2015/11/19

Amendoim

Deixei o último romance da Elena Ferrante a meio. De repente, sem perceber muito bem a razão, deixei de ter interesse na história de Lina e Lenuccia. Passou um mês. Desde então, para além de um pequenino livro do Amos Oz sobre fanatismo (“tornei-me escritor por causa da pobreza, da solidão e dos gelados.”) e de alguns poemas de Álvaro de Campos, lidos na vã tentativa de os explicar ao meu filho João, não li nada. Mesmo nada. É como se uma bruxa me tivesse lançado um feitiço. Sinto um vazio, um vazio que me paralisa e estupidifica, mas que não consigo contrariar. Em vez de ler, vejo televisão: novelas, concursos e programas de culinária. Vejo também alguma pornografia, sem grande entusiasmo, mais por desfastio do que propriamente por necessidade. Ontem, pensando neste longo período de desintoxicação literária, enquanto experimentava uma receita que aprendi na televisão – barras de chocolate preto com amendoim salgado -, percebi finalmente como posso livrar-me do vazio, desta incompreensível e absoluta desnecessidade de ler.