2015/11/04

Cheiro

Comem as papaias, as mangas, as vagens do tamarindo, também os frutos das pequenas árvores que o tio Filipinho plantou junto do muro rendilhado. Roubam as aparas de coco que secam ao sol. Às vezes, anda a Juanita a estender roupa, aparecem de surpresa e, atrevidos, talvez imitando gestos observados nos homens da aldeia, levantam-lhe a saia do sari. Gritam permanentemente. Quando o fazem mostram dentes raiados de castanho e as altas gengivas muito cor-de-rosa. Durante a tarde, em vez de procurarem uma sombra, juntam-se em cima do telhado, grupos de quatro ou cinco, e, como se fossem gente, falam animadamente. O Moreno e a Michelle, que vivem no apartamento do primeiro andar, andam com os nervos à flor da pele. Queixam-se que não conseguem dormir a sesta. Pediram por isso à tia Maria que, no piso térreo, mandasse preparar o quarto que era do tio Babai. Um quarto amplo, junto da cozinha, habitado por cristos padecentes e nossas senhoras de olhar triste. Já o meu pai, cansado dos trabalhos nas repartições públicas de Margão, dorme sossegado. Liga a ventoinha, deita-se, fecha os olhos. Conta que, apesar da distância, consegue sentir o cheiro da minha mãe. Concentrado nesse doce cheiro, o cheiro da minha mãe, rapidamente adormece. Não escuta a alegria dos macacos que desceram da montanha e invadiram a aldeia.