2006/12/20

Desejo

O ano passado formulei três desejos para 2006: ter outro sobrinho, ir à Índia e arranjar umas sapatilhas all star pretas iguais às daquele rapaz engraçado que é vocalista dos Stroke. Realizaram-se dois dos meus desejos. Desisti das sapatilhas (não tenho idade nem estilo para andar de all star pretas). Não está nada mal. Como a coisa correu tão bem em 2006, tenho de pensar, com cuidado, nos desejos para 2007. O mais evidente seria pedir de volta a minha libido, aquela que nasceu comigo e que, desde criança, me acompanhou como boa amiga, nunca me envergonhando, apesar de descarada e desregrada. Viver assim amputada, entregando-me aos outros, sem me entregar a mim, não está com nada. Provoca, aliás, imensa frustração. Há quem viva bem sem sexo, entregando-se aos filhos, à casa, à carreira, ao tricot, às viagens, ao marido, às lojas das avenidas. Não é o meu caso. Não há nada como sentir a cama como uma enxovia. Não há nada como nos tocarem nas mamas e sentirmo-las flácidas, amorfas, distraídas. Dá vontade de as espancar. Enfim, uma tragédia. Porém, pensando bem no assunto, há uma coisa que me daria mais satisfação do que ter de volta a libido. Há. Já sei o que pedir.