Aconteceu-me o mesmo com o Manuel Alegre. Nas eleições presidenciais, o meu lado esquerdo, que também o tenho, quis votar no Manuel Alegre. Não partilho a visão rançosa que tem do mundo. Estou-me nas tintas para o humanismo que quer introduzir na política. Votaria nele por afecto. Eu sou uma pessoa de afectos. De amores e ódios. As palavras do Manuel Alegre, cantadas pelo Adriano Correia de Oliveira, são das coisas mais bonitas que há na vida. Fazem parte do que sou. Tornam-me menos medíocre. Por isso, por amor - que também se pode escolher um candidato à presidência por amor -, votaria nele. Acontece que, poucos dias antes das eleições, tropecei numa fotografia do Manuel Alegre numa conferência de imprensa qualquer. Ao seu lado, confiando-lhe o seu apoio, estava certo cantor. De óculos escuros para esconder o olhar de jumento e envergando uma samarra de virados grotescos, enormes. Usava também uns jeans de marca, apertadinhos nos genitais. Parecia um chulo nova-iorquino dos anos setenta. Fez-me lembrar o Harvey Keitel no Taxi Driver. Fiquei estarrecida. Aquela fotografia, que não mais esqueço, que me há-de perseguir até ao fim dos meus dias, lixou-me as intenções de voto. Não consegui votar na mesma pessoa em que o tal cantor, cujo discurso político abomino, ia votar. Cedi ao meu lado direito e votei no professor Cavaco.
(Descobri que a Laurinda tem um blogue. Um sentimento difuso, vagamente semelhante ao que senti quando descobri que o tal cantor ia votar no Manuel Alegre, tomou conta de mim.)
(Descobri que a Laurinda tem um blogue. Um sentimento difuso, vagamente semelhante ao que senti quando descobri que o tal cantor ia votar no Manuel Alegre, tomou conta de mim.)