2009/03/05

Desejos

O Público de hoje conta que os homens árabes procuram mulheres israelitas para casar. As israelitas têm fama de inteligentes e bonitas. O Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita recebe por ano dezenas de cartas de árabes solicitando que lhes arranjem uma noiva judia, estando muitos dispostos a pagar o respectivo dote, em camelos ou cabras. Pobres árabes que se deixam seduzir pelo mundo ocidental, tão decadente, tão desregrado, tão livre, tão desejado. Li a notícia e lembrei-me dos homens indianos. Todos os dias, chega às praias de Goa uma chusma de gente vinda do interior indiano. Querem ver o mar. Uma pessoa caminha pelo areal e tropeça em famílias inteiras, pais, mães, filhos, avós, cunhados, primos. Deixam-se deslumbrar pelo mar e experimentam-no. Os homens despem-se e, de roupa interior, cuecas e camisolas de alças, sentem a mornidão das águas. As mulheres, até as mais velhas, chapinham de saris ou de churidas. Fica o mar manso empapado com tanta cor. As mulheres jovens mergulham nas águas de t-shirt e calças de ganga. Aos homens é permitido o ridículo de se passearem com as trousses encardidas pelas praias. Às mulheres, por imbecil decoro, querem-nas longe do meretrício e da devassidão, é imposto o desconforto pesado das gangas molhadas coladas ao corpo. Os homens indianos gostam de passear, em grupo, pela praia. Olham, boçais, para as turistas que usam biquínis e fatos de banho. A ocidental nudez paralisa-os ao ponto de parecerem autênticos bois a olhar para um palácio. Muitos têm erecções por baixo das cuecas molhadas. A gente olha e vê-lhes as pilas esticadinhas num arrepio tolo de prazer.

Os portugueses não são assim. Passaram há muito os patamares civilizacionais em que se encontram os árabes e indianos. Não querem uma mulher israelita. Não se embasbacam por ver mulheres nuas, passeando nádegas celulíticas, nas praias caparicanas. Porém, não são assim tão diferentes. Apreciam o recato das suas mulheres, que tomam com aborrecimento de quinze em quinze dias. Gostam, no entanto, do atrevimento das soraias chaves que se despem nas revistas. No fundo, no fundo, sejam os árabes ricos que desejam comprar uma mulher israelita, sejam os indianos magricelas que se excitam com os corpos semi-despidos das turistas, sejam os portugueses que alardeiam aos quatro ventos que a não sei quantas é muito boa, assegurada que esteja a decência doméstica, os homens gostam é daquilo que não podem ter.