2017/06/10

Bico de pato

Durante muitos anos, a primeira coisa que fazia mal chegava a casa, ainda de sapatos de salto alto calçados, a mala e as mochilas atiradas para um canto do corredor, era varrer a casa. Varrida a casa, quartos, sala, casas de banho, corredor, eu podia olhar para o chão limpo, nem uma nuvem de cotão, nem um novelo de cabelos, e sossegar. Agora, que comprei um aspirador, a  primeira coisa que faço, mal chego a casa, ainda de saltos altos, é aspirar cada divisão, com atenção, minuciosamente, quero cada canto da casa limpo. Ninguém pode imaginar o bem estar que sinto por chegar a casa, tarde, tão tarde, perto das oito, o jantar por fazer, e, em cinco minutos, sem revoadas de pó e pêlos de gato, sentir a casa limpa. Já nem arrumo o aspirador. Está sempre na sala, como um animal adormecido, pronto a ser acicatado. Mas, e é isso que me entristece, é o segundo aspirador que compro desde que tenho casa própria e que não traz bico de pato. Ah, como se limpa uma casa em condições sem bico de pato!?, eis uma pergunta que tenho feito nos últimos dias. Como se limpam os rodapés, as reentrâncias inúmeras de um apartamento, as calhas onde correm as portas dos armários? Faz-me muita falta um bico de pato, longo, delgado, capaz de entrar em todo e qualquer buraquinho escuro.