2013/04/22

Mercúrio


Ainda tão perto de Lisboa, ali quando a auto-estrada passa por Alhandra, a cimenteira, a capela no altinho, a linha do norte marcando o fim à vila, os álamos que deitam uma sombra baça, cheia de poeira, sobre os prédios antigos, iguais aos de Moscavide e Sacavém, ali, ainda tão perto de casa, a curva do rio a ver-se, e já eu ia leve, levezinha, a bater os dedos no volante, esquecida da carraça que me chupa o sangue e deixa os vasos quebradiços, os órgãos secos, a traqueia estrangulada em muitos nós, quero respirar e não consigo. Fui e voltei. Cheguei a casa, deviam ser nove da noite, retemperada, consolada, o bem que a música me faz, é preciso tão pouco para me animar. Mal abri a porta veio a prole enrolar-se nas minhas pernas. Beijos e abraços, gotas de mercúrio, inchando até serem uma só, também gosto muito de vocês, tanto, são a luz da minha vida, o melhor que a vida me deu, o resto que se lixe, não fossem vocês, ricos amores, e já me teria lançado ao mar, num lugar de águas escuras, profundas, onde um peixe antigo, luminoso, iridescente, de fiadas de dentes fininhos, me arrancasse o corpo ao pedaços.

Virei-me para a minha mãe. Pedi-lhe para os aturar mais uma hora. Calcei uns ténis. Lá fora, a noite abafava, nem uma brisa se levantava do rio, era uma noite de verão, estática, andavam as tainhas mais moles do que é costume, nadando aos círculos que o cerebelo carregado de nafta e gasolina deixa-as muito estúpidas, vinham com a cabeça à tona para olhar com os seus olhos amarelos as estrelas e a lua. Não se via ninguém. Passei apenas por um homem grisalho que passeava um cão minúsculo e levava pelas costas uma mochila das jornadas peninsulares de psiquiatria. Atrasei o passo. Corri durante uma hora. Voltei a casa. Despediu-se a avó. Tomei banho. Deitei-me. Olhei a secretária e o computador. Lembrei-me dos meus propósitos, tão boas as minhas intenções, agora que ninguém me reclama, agora que ninguém me cansa, hei-de escrever todas as noites, um bocadinho de lixo todas as noites. Não custa nada. Até ter um lixo de muitas páginas. Apaguei a luz. Mal a escuridão entrou no quarto, pensei em mamas, rabos, pénis muito tesos ejaculando para dentro de bocas. O orgasmo veio fácil, em meia dúzia de segundos, numa vertigem, sem esforço, uma coisa sem jeito nenhum, sensaborona, aguada, desoladora, profundamente triste.

Adormeci. Às três da manhã, bradou o mais pequeno. Preciso de ti, disse e subiu à minha cama com o coelho Botelho na mão. Às quatro da manhã, veio a do meio, vestia uma camisa de noite cheia de anémonas, tão frágil, tão delicada, a minha filha, como uma gota de água. Tive um pesadelo contigo e com o pai, explicou. Fica, meu amor, que a noite não silencia os medos, nunca a escuridão os apazigua. Às cinco da manhã, chegou o mais velho, um cristo cigano, sem dizer uma palavra, dormia ainda, dormia de olhos muito abertos, trazia o corpo fluído de prata. Terceira gota. Ocupou na cama o lugar do pai. Adormeci a um canto, meio corpo de fora, caindo para um abismo de espinhos e névoas. Acordei de madrugada, chilreavam os pardais e os melros nas árvores da praça, piu, piu, piu, piu, um frenesim matinal muito bom. O mais novo despertou com o alarido dos pássaros. Galgou o corpo da irmã e livrou-me do precipício. Beijou-me e adormeceu. 

2013/04/19

Aninhas e as caixinhas de broas

Devia ter pouco mais de dez anos quando lhe ofereceram um livro ilustrado de fábulas. Aninhas, muito morena, cabelo curto, unhas roídas, um anelzinho de prata no dedo indicador, passava horas a lê-lo.  Lia e relia. Tomava atenção aos detalhes dos desenhos. Sentia a rugosidade das folhas e cheirava-as. A sua vida ficou para sempre marcada pela moral intuitiva desses bichos: leões, cigarras, formigas, burros, cavalos, lobos, cegonhas, grous e ovelhas. Por exemplo, sempre que um homem a abandonava, Aninhas procurava ter a astúcia da raposa que, olhando um cacho de uvas cheias e maduras, por as não poder alcançar, diz que estão demasiado verdes. Nem sempre a técnica resultava. Largada há pouco tempo por um professor de semiótica, Aninhas tentava fixar-se apenas  nos seus defeitos: a desadequação entre a careca e o brinco que usava no lóbulo esquerdo, a pança flácida tocando o seu corpo, a facilidade com que as outras mulheres lhe mereciam o superlativo absoluto sintético. Inteligentíssimas. Lindíssimas. Interessantíssimas. Fecundíssimas. Porém, mal acordava, rosto inchado de sono, as pálpebras coladas de ramelas, Aninhas lembrava apenas aquilo que desejava esquecer: as caixinhas de broas que o professor lhe trouxera pelo natal, o seu cheiro a rios de água gelada, o modo como certa vez, na entrada de um prédio, lhe abocanhara os mamilos, mordendo-os, o retalhe do seu corpo imenso na paragem de autocarro.

2013/04/17

Urbano


Toda a gente tem direito às suas embirrações. Eu, que não sou mais nem menos do que os outros, tenho direito às minhas. Embirro com quase toda a gente que conheço; às tantas, reconheço, já nem sei bem por quê. É um modo de estar na vida como outro qualquer. Embirro com a Sofiazinha, com o Nuno, a Natércia e a Patrícia, embirro com quase todas as amigas da minha irmã, umas mais do que outras. Também embirrava com vários vizinhos dos meus pais, a preferência ia para o capitão do quinto direito, beato, salazarento, sempre de charuto ao canto da boca. Agora já gosto dele. A mulher perdeu de vez o tino, está completamente louca e eu sou muito sensível à loucura. Embirro com a Anabela Mota Ribeiro (uma embirração misturada com uma pontinha de inveja porque a acho verdadeiramente bela), com o Kalaf Angelo, com o valter hugo mãe e, ao ponto da náusea e arrancos vómicos, com a Michelle Obama, de sabrinas e corsários, plantando nabos e pepinos nos jardins da casa branca. Há muitos anos que desligo o televisor sempre que aparece o António José Seguro. Embirrava, e continuo a embirrar, mesmo depois de morto, enterrado, eternamente celebrado, com o Eduardo Prado Coelho. Enfim, são tudo embirrações ligeiras, inconsequentes, mas que me provocam uma sensação boa de alívio. Assim como um arroto bem dado.

Mas, às vezes, aparecem embirrações que são como carraças. Não me largam. Tornam-se fixações. Há muitos anos que embirro com o Urbano Tavares Rodrigues. É uma coisa visceral, uma reacção não controlável, basta-me topar-lhe com a fronha, o cabelo ondulado, o corpo magro e esguio, a pele velha, manchada, carcomida, para me fazer largar um esgar de nojo. A entrevista que deu há meia dúzia de meses ao Público, a propósito do seu novo livro, deixou-me num estado de irritação profunda. Não aceito mas compreendo o machismo assumido por um certo tipo de homens: conservadores, marialvas ou simplesmente boçais. Bate a bota com a perdigota, como é uso dizer-se. Mas, encontrar homens supostamente esclarecidos, desses que enchem a boca cada vez que falam de liberdade e erguem o punho por dá cá aquela palha, a falarem das mulheres como se fossem caça, reconduzindo-as sempre à sua condição menor é triste e desolador.


Ontem, rondando os escaparates da livraria do costume, dei de caras com o livro sobre o qual o escritor tão entusiasticamente falara ao Público. Parece que esteve dois dias sem dormir para escrever a primeira novela. Basta ler as duas primeiras páginas para perceber que leva ao limite do absurdo a sua ilusão de grande macho cobridor: há uma enfermeira que desfalece com os orgasmos que o narrador (ele, só pode ser ele!) lhe provoca numa sala com cheiro a clorofórmio e, mais adiante, logo na página a seguir, há uma empregada de limpeza que o venera. A sopeira chora quando o beija pela primeira vez e agradece quando o narrador lhe ensina a chupar devidamente o caralho. É tudo tão tristemente insultuoso que uma mulher fica sem saber se há-de rir ou chorar. Se não estivéssemos em crise, se não me tivessem papado subsídios e prémios, se não me tivessem cortado o salário com o qual sustento a minha prole, bem que comprava o merdoso livro do merdoso escritor Urbano Tavares Rodrigues. A minha vida é um martírio, sou uma autêntica penitente, devia ter direito a alguma diversão.


(O Urbano Tavares Rodrigues, escritor menor, foi casado com a Maria Judite de Carvalho, escritora maior, infelizmente sempre colocada na sua sombra.)

2013/04/16

Aninhas e o trevo de quatro folhas


Gostava de passear com os filhos nos jardins e parques da cidade. Procuravam rãs, patos, borboletas, lagartas, chapins, libélulas, papagaios. Cheiravam flores, sementes, folhas, caules, raízes, paus. Espreitavam grutas, tocas, troncos, lagos, todos os recantos sombrios, bons para namorar. Na primeira tarde de sol, a filha lendo na sombra de uma árvore, os mais pequenos esbulhando um formigueiro com varas fininhas de amieiro, no meio das ervas altas dos clorófitos, Aninhas encontrou um trevo de quatro folhas. Quando se preparava para o arrancar, notou o seu reflexo nas vidraças da biblioteca que ficava no meio do parque: um corpo deslassado do resto, um fruto maduro prestes a apodrecer. Fechou os olhos e desejou: nunca mais a força bruta, quero apenas o prazer, sem o sofrimento da paixão, sem o aborrecimento do casamento. Voltou a abrir os olhos e procurou os filhos. Meteu o trevo à boca e mastigou-o.

2013/04/08

2013/04/05

Al Green

2013/04/03

Acordar


Foi assim durante muito tempo. Muitos anos. O meu despertar era sempre igual. Acordava triste e desesperada. Procurava o corpo na penumbra do quarto, desejando não o encontrar. Talvez alguém, durante o sono, compadecendo-se da minha dor, o tivesse levado para longe. Quando o encontrava, ao meu corpo, adormecido a um canto qualquer, pontapeava-o com violência para que se erguesse. Como se fosse um vagabundo que se despreza. Erguia-se o meu corpo, tão estiolado, tão frágil, entrava dentro dele e corria à cozinha a arranjar os pequenos-almoços dos meus filhos. Habituei-me à tristeza, é como a solidão, fere, mas deixa em nós qualquer coisa, bela e única, que não se sabe explicar. Quem não tem dentro de si alguma tristeza e solidão não é gente. É personagem de anúncio de cerveja ou de telemóveis. Nunca me habituei, no entanto, ao desespero, ao choro louco, ao conforto das imagens sombrias, um parapeito para saltar, um rio de água barrenta, os bolsos cheios de pedras, os pulsos cortados com uma lâmina, lágrimas de sangue empapando a alcatifa cor de laranja do escritório do meu pai, sessenta comprimidos letais tomados ao pequeno-almoço como no poema. Hoje, voltei a acordar triste. Não me importo que a tristeza volte. É uma amiga para a vida. Se vier só, abro-lhe a porta, deixo-a instalar-se dentro de mim. É o desespero que me assusta.

Abril

2013/03/29

Verdes Anos

2013/03/10

Venezuela

2013/03/05

Joaquim


Lembro-me de te falar ao ouvido. Vou cuidar de ti. Até seres velho. Não sei como se faz, mas vou ser imortal, como os deuses, para nunca te deixar só. Vou ter muitos filhos. Até as minhas entranhas se cansarem e apodrecerem com cheiro de limão e manchas de bolor. Vou educar essas crias cegas para serem a tua bengala e o teu amparo. Repeti as mesmas palavras vezes sem conta enquanto te embalava. Meu amor. Até que as esvaziei. Tirei-lhes o sentido. Ficaram as palavras mortas, rotas, uns fiapos de espuma, pendurados no vazio. Quando não esperava, entrei-te pelos olhos dentro. Deixei de ser invisível. Senti o corpo quente. Inchei como um balão de feira. Era um deus louco e caprichoso que me soprava para dentro. Achei, pela segunda vez na vida, que podia ser feliz.

2013/02/21

América



(Hoje, enquanto corria, dois gordinhos, ele de botas pontudas, ela de jaqueta de napa, fodiam ao cimo da escadaria do pavilhão atlântico; mais adiante, perto do pontão dos pescadores, a outra margem tremendo em pontos de luz, uma negra chorava no ombro de um branco insuflado de músculos.)

2013/02/15

Etta Jones

2013/02/11

Holofernes


Noite dentro, enquanto a chuva mansa tamborila nas vidraças, Judite rebola na cama, resfolegando como se fosse um animal. Uma égua ou uma vaca. De lábios túmidos. Cabelos emaranhados. A pele recamada de bagas de suor. Parece uma planta orvalhada. Uma deusa ignota, imperfeita. Espera Judite que a escuridão do quarto tome a forma do corpo de um homem.

Pensa Judite: quando a escuridão e o vazio se condensarem em corpo de homem, por fim, amainarei. A chuva continuará, mansa, a bater nas vidraças. Com calma, olharei para os ciprestes que lá fora permanecerão hirtos. Olharei para o homem deitado ao meu lado. Será grande como sempre o imaginei. Cabelo comprido. Barba negra como a escuridão que lhe deu corpo. Olhos de lobo, de lince, de leão, de cão esfaimado. Um bafo quente, nebuloso, sair-lhe-á de dentro. Será como um animal feroz sem açaime ou jaula.

Judite continua a pensar: tirarei a camisa que me cobre o corpo e deixarei que o animal-homem-escuridão me tome. Este é o meu corpo. Tomai-o em nome de Deus. Ele tomar-me-á como os bichos. Saciado, descansará, então, sobre os lençóis ainda mornos. Dormitará com um sorriso de anjo boçal no rosto. Em silêncio, pegarei no machado que se esconde por baixo da cama. Ergue-lo-ei. Com um golpe, com um único golpe, cortar-lhe-ei a cabeça. Ele abrirá os olhos segundos antes do cutelo o penetrar. Um grito mudo perder-se-á pelo quarto. Baterá nas vidraças fechadas como moscas cegas. Haverá sangue derramado pela cama. Um líquido viscoso, denso, quase preto. Quando a sua cabeça rolar para o chão adormecerei. Ao lado do corpo decepado. Antes, porém, direi o seu nome: Holofernes.

( e o Joaquim, que hoje cheira a limão, vem mostrar-me as mãos. Depois trata  do coração do meu cristo.)


2013/02/10

Conimbricense




(Contaram-me que tem uma namorada nova, conimbricense. Deve ser cá um camafeu. Quase velha, com papos nos olhos, carnes flácidas, prazo de validade expirado, conimbricense. E eu, ainda de glúteos firmes, que o amo desde o ciclo preparatório, quando a Prof. Maria dos Anjos nos deu a ouvir o Barnabé, eu que tenho filhos que identificam as suas canções aos primeiros acordes e que os amo muito mais por essa razão, eu que quis perder os três a escutá-lo, que quis entrar na igreja a ouvi-lo, que me lembro dele em cada momento importante da minha vida, que escolhi para me tratar do divórcio, sobretudo por isso, o colega de faculdade que me gravou o canto da boca e o campolide, eu que detesto todos os que o ouvem porque acredito que as canções que compôs são só minhas. Só eu as sei escutar.)

2013/02/07

Saudade



(Voltei a almoçar ao lado dos informáticos do quinto piso.)

2013/02/06

Bukowski


Ando a ler sem grande entusiasmo um livro do Charles Bukowski. É uma sucessão de fodas, bebedeiras e alucinações. Não há mais nada. A temática interessa-me: as bebedeiras porque quem me conhece sabe que não sou alcoólica porque calhou não o ser (tenho tudo para ser alcoólica), o sexo porque enfim é um assunto que preciso resolver (recuso entregar-me à desistência), as drogas porque representam a miséria e a indigência (sempre gostei de indigentes, assim como há quem goste de cães e gatos). Mas tudo o que é demais enjoa. Por vezes, no entanto, o tal Bukowski tem assim uns repentes de clarividência, não diz nada de novo, são quase banalidades o que escreve, mas sabe-me bem lê-las, às banalidades, no meio de tanto broche, tanta cona e tanto caralho entesado. Hoje, no refeitório, ao lado da Rosa das olheiras fundas e do João das sopas, li assim: “Mercedes virou o rosto para mim. Beijei-a. Beijar é muito mais íntimo do que foder. É por isso que nunca gostei que as minhas namoradas beijassem outros homens. Preferia que fodessem com eles.” Não é nada de especial. É claro que beijar é mais íntimo do que foder. Mas li e soube-me bem ler, ali, no refeitório, ao lado do grupo do informáticos do quinto piso. Até me esqueci do desgosto fundo que tenho sentido desde que descobri que o rapaz das arcadas já não trabalha no meu edifício. Não sei como vou aguentar tamanha solidão no meu gabinete de azulejos verde água.

2013/02/04

Marvin Gaye

Aninhas e o chá


Entrou no salão. O dono do cabeleireiro veio recebê-la. Cumprimentou-a com um beijinho e ofereceu-lhe um chá. Aninhas recusou com delicadeza e deixou-se estar a falar junto do balcão da entrada. O dono era um homem gordo, muito expansivo, cuja afectação se justificava pela clientela que conseguira reunir ao longo dos anos: jornalistas, deputadas, uma ou outra ministra, escritoras, professoras universitárias, algumas actrizes consagradas, mas nem uma única dessas celebridades que aparecem nas capas de revista por confundir a sua profissão com meretrício. Aninhas perguntou-lhe pelo companheiro, operado há pouco tempo. Não o fazia com sinceridade, não era genuína a sua preocupação. Na verdade, sentia certa repulsa quando via o dono do cabeleireiro abraçar o namorado, um rapaz novo que trabalhava no salão como colorista. Sacrificava, porém, o seu conservadorismo ao estatuto que aquela aparente intimidade lhe conferia. O salão tinha uma clientela muito selecta. No entanto, apenas um círculo muito restrito, a que Aninhas pertencia, tinha direito ao convite para o chá, servido numa porcelana finíssima, quase transparente.

2013/02/03

Serão


Deitei os miúdos. Vesti o sari branco que a tia Amália me ofereceu. Enchi os braços de pulseiras de vidro. Prendi o cabelo com grampos. Pintei os olhos carregados de preto. Colei um bindi brilhante entre as sobrancelhas. Olhei-me no espelho. Achei-me bonita, simplesmente bonita. Abri um garrafa de vinho. Fui fumar para o estendal.