2011/07/13

Almada

Isto é um caderno-diário, narcísico e ensimesmado. Que se lixe o país, a crise, os eurobonds, a moddys e o resto. Há quem leia este caderno-diário. Há quem goste. Há quem deteste. Há quem se esteja a borrifar, atitude tão sensata. Não tem comentários porque não quero. Tem mail por uma razão simples. Gosto de receber mensagens a elogiar-me o estilo, a virulência, a dizer que bem que escrevo. Fico radiante durante dois ou três dias. Por vezes, acontece o contrário. Escrevem-me a dizer que sou pretensiosa e coisa e tal, uma sopeira armada em intelectual. Mandam-me à merda, que é coisa ultrajante.

Há que saber insultar decentemente e com veemência. Não é difícil. Eu quando insulto alguém mando-o(a) para o caralho ou para a puta que o pariu. Não é original, mas cumpre com eficácia os desígnios do insulto. Aproveito a deixa para te esclarecer: não era a tua mãe que eu insultava quanto te chamava filho da puta. Era a ti. A tua mãe, no insulto, funcionava como nada, como um instrumento para te magoar. Eu era lá capaz de insultar a tua mãe. Coitadinha. Até me deu uma prenda de Natal tão útil. Um aspirador da Bosch, metalizado, com controlo de sucção na pega do tubo. Para terminar e retomando o fio à meada, peço um favor: elogiem-me à vontade, insultem-me quando vos apetecer, mas não me mandem mensagens a oferecer o ombro, a consolar-me, a achar que sou uma desgraçada de uma mãe sozinha, deprimida, suicida. Há quem aprecie esse tipo de lambuzadelas peganhentas, com consistência de ranho e cheiro putrefacto de traques inaudíveis de velhinha (sei do que falo). Não suporto a mediania de tais sentimentos. Provoca-me brotoeja, prurido, náusea, cefaleias e taquicardia.

(Estive em Almada, durante a tarde. Vista das janelas do tribunal, a cidade mostrou-se, luminosa, quase bonita, ela que é uma cidade feia. Cheirava bem. A madeira encerada, a casa antiga, de corredores frescos e limpos. Nunca uma cidade me cheirou assim.)