Sou Ana de cabo a tenente/ Sou Ana de toda patente, das Índias/ Sou Ana do oriente, ocidente, acidente, gelada/ Sou Ana, obrigada/ Até amanhã, sou Ana/ Do cabo, do raso, do rabo, dos ratos/ Sou Ana de Amsterdam.
2012/09/28
2012/09/27
Foice e martelo
Voltei ao Porto. Trouxe da loja do Rui Carlos vários livros de uma tal Luísa Teles,
conhecida professora, que morreu há coisa de dois anos, sozinha num apartamento
de tectos estucados. Ao que parece era uma velha com muito mau feitio,
autêntico camafeu, deu-lhe uma convulsão, espumou da boca, arranhou o rosto com
as unhas azuladas e finou-se num instantinho.
Entre outras coisas, trouxe uma edição
muito bonita e sóbria - título e nome do autor emoldurados a vermelho e
cor-de-laranja - de “Uma abelha na chuva”. É um consolo olhar para um livro
assim. Também trouxe uma colectânea de poesia árabe. Não sou apreciadora
de poesia tal como não sou apreciadora de bacalhau ou de bebidas brancas. Sei
que é uma falha grave para quem alardeia o gosto da leitura. Vai daí, lá de vez em
quando, faço um esforço. Ainda este Verão, a Mila, enquanto molhávamos os pés
na água fria, me falou com emoção de um poema da Natália Correia. Fui à procura
dele, li-o e nada, nem ai, nem ui, palavras bonitinhas, coceguentas, pouco
mais. A poesia não me aquece, nem me arrefece, dá-me sonolência e um
aborrecimento de frígida. Trouxe mais quatro ou cinco livros de escritores
portugueses que são os que mais gosto de ler. Mas o grosso da escolha recaiu sobre vários livros da Agustina Bessa-Luís, antigas edições da Guimarães, que as
novas, as azuis, da defunta Babel dão-me calafrios, pretensiosas, feias, tão
canastronas.
O Rui Carlos, antes de me entregar os livros,
passou-os a pente fino, tirou bilhetes, contas, folhas, flores, vários esboços
de desenhos, duas cartas em papel translúcido, caligrafia inclinada, maiúsculas
dramáticas, de golpe acentuado. Perante o meu protesto, explicou que prometera
aos filhos da tal Luísa Teles preservar a intimidade da mãe. Fiz beicinho a ver
se o demovia. Sou um homem de palavra, Aninhas, escusas de fazer essa carinha
laroca, espetar o rabo nessa saia justa e bater as pálpebras, que não me
convences. Ficou um montinho de papéis em cima do tampo de mármore, o último
era um cartão de militante do PCP, bem vi a foice e o martelo; eu, aguada, a
olhar.
2012/09/21
Mata-moscas
Tivemos uma discussão medonha (detesto esta palavra, medonho, medonha, mas não sou capaz de encontrar sucedânea), ao final da tarde, na cozinha, os vizinhos escutando a nossa vida. Pela primeira vez na vida, não senti medo - tenho tanta vergonha do meu medo - , estranhei a minha segurança e certeza. Quando saiu, andei a confortar os miúdos, lambi-lhes as lágrimas, contei histórias, li em voz alta para o João adormecer. Depois, pus-me a ler a Agustina e descobri isto: "Era uma coisa maravilhosa esse abismo na vida de duas pessoas, com os seus tempos separados, de desejo, procriação e de trabalho. O amor era talvez uma longa rebelião absorvida pela paz de cada um". ´Refeita, fui buscar um mata-moscas e andei a matar meia dúzia de palavras-arremesso que insistiam em voar pela cozinha. Ficaram os seus corpos de queratina presos às paredes de azulejos azuis. Larguei o mata-moscas a um canto e senti fome. Fui buscar uma carcaça. Molhei o miolo no molho da carne assada. Comi pedaços grandes, cheios de gordura coalhada e cebola.
2012/09/18
Cedofeita
Sempre que vou ao Porto almoço com
o Rui Carlos que tem os dentes muito amarelos, usa boina e parece tão velho quanto
é. Hoje, enquanto almoçávamos na Chicana, estraçalhava eu uma pescada frita, ao
espiar a vigília de ontem, perguntei-lhe o que achava da privatização da RTP. Palitou
os dentes, aborrecido com a pergunta. Ó doutora, ó minha rica doutorinha, foi
dizendo com uma soberba que me irritou, querem instruir o povo, quando o que
povo quer ver é nádegas cheias e a desgraça dos outros para se sentir menos miserável.
Há que respeitar o povo e para o respeitar não é preciso pagar uma televisão pública. É
um engano pensar que os pobres e os remediados têm uma vocação latente para a erudição. E
continuou a palitar os dentes. És um bruto e já não tens idade para usar a fralda da camisa por fora, respondi-lhe, mas não
fui eu que falei. Foi a Nel. Não sou nada e toca a despachar a marmota, já
não temos muito tempo para ir ver o casario da Cedofeita. Lá fora, no silêncio da Avenida Rodrigues de Freitas, uma grávida desdentada pôs-se a gritar com duas crianças ramelosas.
2012/09/17
Nana
A
meio da tarde, quando lhe telefonei para lhe pedir o carro para ir fazer amanhã
um julgamento ao Porto - é a gasóleo, sempre ganho mais meia dúzia de tostões -
o meu pai goês, bruto, tantas vezes, mau, escutava a minha canção, lia as
minhas palavras e olhava Nana, a mais bela mulher. Como não amá-lo?
Austeridade
Nanda
continuou a frequentar a igreja. Refez a sua vida: passou a gastar a pensão de
aposentação em restaurantes que serviam comida de inspiração italiana, lia os
suplementos de fim-de-semana dos jornais, comprava guias gastronómicos, fazia
listas, passava a semana a salivar; ao sábado, vestia umas calças escuras de
cintura alta, um bolero de tricot azul com gola de rebuço, escolhia uma pochete
de vidrinhos brilhantes, arrebicava o rosto com um blushe cor de pêssego e
passava um baton forte pelos lábios. Sentava-se sozinha em restaurantes de
ambiente elegante e descontraído, frequentados por homens de barba aparada,
ligeiramente adamados, mulheres emancipadas que deixavam a prole com babás
ucranianas. Os comensais habituais, limpavam os cantos da boca a guardanapos de
pano, beberricavam roses frutados, tintos robustos e brancos frisantes,
mantinham a conversa acesa, acordavam na essencialidade da austeridade, alongavam-se
em análises profundas sobre a crise, desfiando, como se fossem seus, argumentos
lidos em colunas de opinião; arrumada a situação económica do país, passavam a
temas mundanos, falavam de férias em resorts turísticos, de mensalidades de
colégios privados e peças de mobiliário vintage, compradas em lojas da Baixa.
De viés, sem conseguir esconder o incómodo, olhavam Nanda, estranhando a
presença daquela sexagenária solitária, o bolero de tricot sem requinte
informal, as calças de cintura alta demasiado justas a acentuar a adiposidade
do corpo velho; metia-lhes nojo ver os arrabaldes intrometerem-se na
descontraída sofisticação das suas vidas.
2012/09/13
Vivre sa vie
Fumo
enquanto ela fuma. Aprendi com ela a olhar em volta, a observar os outros sem
medo ou embaraço. Amo-a desde a primeira vez que a vi, aos dezoito anos,
sozinha, em casa; a oral de direito romano era no dia a seguir e eu,
tristemente cumpridora, a filha das boas notas, esqueci-a. Não revi a Lei das
doze tábuas e durante o exame, as mãos velhas do Padre Samuel nas minhas pernas
ainda tenras, lembrei-me dela. Um dia, convencida da singularidade de um homem,
por sinal, jurista, convidei-o para ir vê-la. Passava o filme na Cinemateca e
eu nunca o vira em tela grande, numa sala escura. Desculpou-se o tal jurista já
não sei com o quê e recusou. Fui sozinha e não me senti só. A vida, alguém o
disse, é uma enorme repetição.
2012/09/09
Kanchanganga Bldg.
A primeira vez que fui a Bombaim fiquei em
casa da minha prima Melinda. Vive na parte ocidental de Andheri, num
apartamento pequeno com o marido e duas filhas. Uma das meninas chama-se Elaine
e será, como já expliquei ao meu filho João, a minha futura nora. Os prédios em
Bombaim têm nomes e aquele onde a Melinda vive chama-se Kanchanganga Bldg. Por
ser tão alto e ter gradeamentos nas janelas - todos diferentes, todos
ferrugentos, cada um ao gosto do seu proprietário - fez-me lembrar, ao primeiro
olhar, uma torre medieval fortificada. Olhando para cima, vislumbrei, nesse
primeiro dia, silhuetas de águias, gralhas, abutres. São aos milhares nos céus
de Bombaim. Rondam os pássaros soturnos as torres de apartamentos no intuito de
comer os desperdícios dos seus habitantes. São, simultaneamente, sinistros e
belos. O Kanchanganga Bldg. tem um porteiro sorridente que assegura que a torre
não é invadida pela amálgama de miseráveis que vive nos passeios da cidade. Usa
uma farda puída e um boné que deve ter herdado do seu antecessor. Fica-lhe
demasiado largo. Pela manhã abre as portas aos moradores que saem para os seus
empregos e aos meninos que vão para a escola. Esvazia-se depois a torre. Ficam
apenas algumas mulheres e as crianças mais jovens. Em cada piso os apartamentos
desembocam num átrio circular que não serve apenas de passagem para a rua. O
átrio é uma parte comum e funciona como prolongamento dos apartamentos. É aí,
no átrio, que os habitantes deixam os sapatos antes de entrar nas suas casas e
as mulheres conversam sobre assuntos domésticos. As portas dos apartamentos não
são maciças. Têm uma espécie de portinhola que, se abrindo pela manhã, deixa
antever o miolo dos apartamentos e os movimentos dos seus habitantes. A torre é
habitada por católicos, hindus e muçulmanos. No átrio misturam-se os odores
intensos das suas cozinhas. Ao lado das portas há pequenos oratórios com
imagens de cristo, placas com luas crescentes e altares coloridos às divindades
hindus. É uma miscelânea de deuses e de fés, convivendo de forma
inesperadamente harmoniosa. Quando chega a tarde as mulheres dormitam e as
crianças, sentadas no chão, sonham em ser iguais aos meninos prodígio que
aparecem nos concursos televisivos. O porteiro aproveita o sossego da tarde.
Sentado junto das caixas do correio olha gulosamente uma revista onde as
actrizes da cidade aparecem seminuas. Na Índia, as mulheres vestem com
decência, não usam decotes, não mostram as pernas, banham-se no mar vestidas.
Ao anoitecer, quando a cidade fervilha em todo o seu esplendor, o porteiro
volta a abrir as portas aos habitantes do prédio que regressam. Lá fora, os
vendedores de tabaco e areca desmontam as suas bancas. Chegarão então os
habitantes dos passeios, os corpos-sombra, quase invisíveis, quase mortos, os
intocáveis que nascem, vivem e morrem na rua. O porteiro observa-os através dos
vidros da entrada do Kanchanganga Bldg e agradece aos deuses a sua sorte.
(Setembro/2008)
2012/09/08
2012/09/05
Pai
Estou tão feliz por regressar. Gostava de ir e nunca mais voltar. Ficar para sempre com o meu pai. Eu e ele. Mais ninguém. Há quem ache que o meu pai não merece o amor ancilar que lhe tenho. É sinal de fraqueza, pueril ingenuidade, a fonte de todos os meus problemas, inércia, frigidez, tristeza. É o que dizem os entendidos e há tantos entendidos na vida. Amar os santos é fácil e aborrecido; difícil é amar os ímpios, os impuros, os biliosos. Não sei viver de outra maneira. É para o meu pai que vivo, por ele que espero.
Noite
Não
sei explicar a noite. Não gosto da noite. Só as noites em Goa me trouxeram
sossego e felicidade. Assim que o meu pai adormecia, corria a buscar uma
cerveja ao frigorífico e fugia para o terraço. Arrastava uma cadeira para a
beirinha do estendal, afastava as roupas tesas que a Caetaninha deixava
estendidas pela manhã e acendia um cigarro. Esse era o instante preciso em que
a noite se transformava. Tornava-se mais intensa, ficava com corpo de mulher e
eu encostava-me nela. Passei as noites ali, no terraço, olhando a linha da
estrada que leva ao Seminário de Rachol. Escutava os ruídos: pássaros, matilhas
de cães passando nas várzeas, o vento afagando as folhas do tamarindo,
chupando-lhe o azedo dos frutos, o sacolejar da cerveja dentro da garrafa, os
deuses brincando junto do tulsi, a ventoinha no quarto do meu pai. Pelas
frestas do telhado chegava-me, por vezes, o ressonar da tia Maria e os soluços
do Cristo falante. Chora o Cristo falante noites inteiras porque tem saudades
do tio Rosário. Eu sei que tem. À noite, o mundo reduzia-se aos seus sons e na
sua penumbra só eu existia.
(Setembro/2007)
Menina-Balão
Na
Índia, ao contrário de cá, os jornais não trazem mensagens eróticas. Shiva,
sempre entretido em cabriolices eróticas com as suas consortes, de lingam
erecto, não o permite. Em contrapartida, há em cada jornal uma longa secção de matrimonial. Trata-se, como o nome indica, de uma secção de
anúncios de quem procura parceiro para casar. As mensagens são de uma
especificidade impressionante. Nunca tinha visto nada igual. As brides e os grooms descrevem-se com rigor e exactidão. Num
quadradinho de papel condensam a informação necessária para despertar o
interesse de um potencial parceiro: idade, casta, religião, habilitações
-desengane-se quem pensa que na Índia são todos uns desgraçadinhos analfabetos,
na maior parte dos casos, principalmente nas cidades, o que está em causa é
saber se se tem uma especialização ou um doutoramento -, região, profissão,
salário e, claro, o tom da pele. Fiquei viciada na leitura daquela secção dos
jornais indianos. Por isso, quando a tarde caía sobre a casa de Maina e os
esquilos se escondiam nos ramos da mangueira, eu arrastava a cadeira de baloiço
para a varanda e entretinha-me a ler os anúncios dos casamentos, tentando
encontrar naquelas listas infindáveis correspondências que assegurassem aos
noivos um casamento feliz para a vida. Um dia, a Ria, a menina-balão, veio
sentar-se perto de mim. Espreitou o jornal e chamou, com a sua voz de trovão,
as outras crianças da casa que, entretidas a chupar limas, correram para perto
de nós. “Ana
Clara is reading the matrimonial! She is looking for an indian groom!”. Ri-me
do descaramento da menina-balão e belisquei-a. Depois, passámos o resto da
tarde à procura de um noivo indiano para mim.
(Maio/2007)
Lição em Pondá
Despimo-nos.
Eu, a sobrinha europeia. Ela, a tia goesa, a menina que o meu pai carregava por
caminhos sinuosos de chuva e lama até à escola. A nudez traz-nos a proximidade
que tardava em chegar. Assim despedidas, a tia Amália começa a lição. Primeiro
o saiote, bem apertado ligeiramente por cima da anca. O umbigo deve deixar-se
sempre destapado. É por aí que o corpo respira, explica. Se se cobrir o umbigo
o corpo sufoca. Depois a blusa que deve ser justa e tapar apenas o peito. Por
fim, o rectângulo que envolve o corpo como se fosse um casulo. Há quatro passos
essenciais que não se podem esquecer. O mais difícil é preguear decentemente a
parte de baixo. É preciso ter mãos habilidosas para o fazer. À medida que a tia
Amália fala, executa os gestos, enrolando-se na perfeição no tecido. Eu tento
imitá-la.
Sentada na cama,
Jessica come umas uvas pretas, muito doces e sem grainhas. Para me
tranquilizar, diz que, em vez do sari, poderei sempre usar um churidar.
Sorrio-lhe. Não gosto nada de churidares. A única peça que gosto no churidar é
a dupata. Continuamos a lição. Por fim, com a ajuda de duas mulheres, consigo
vestir o sari. A minha tia apanha-me o cabelo. Manda-me andar. Olho-a. “You can’t walk in a sari like
you walk in your jeans. You have to
walk with grace, Ana Clara!.” Ando. Ela abana a cabeça. Diz que temos de
treinar o andar-de-sari. Reconheço-me nela. E, outra vez, vejo as mãos do meu
pai no seu corpo. Ela faz-me uma festa no rosto. Gosto da festa que ela me faz,
que é morna, como uma manhã de maio. Diz que pareço uma parsee por causa da
claridade da minha pele. Que estranho, penso, sou uma europeia escura e uma indiana
clara. Jessica, escura e gorda, continua a comer bagos de uva e ri-se.
(Março/2007)
Curtorim
Sento-me
no adro da igreja, que fica junto a uma lagoa cheia de nenúfares brancos.
Entardece. Na escadaria, três homens falam um português correcto e antigo, um
português sossegado, que não tem pressa de chegar a parte alguma, um português
doce e calmo. É a primeira vez que aqui, em Goa, escuto português falado
espontaneamente. Entardace. Lá dentro, o meu pai fala com o padre vigário, que
usou uma batina branca e umas sandálias nos pés durante a missa. Os três homens
continuam a conversar. Escuto-lhes as palavras. Percebo que falam sobre mim. Um
deles aproxima-se e, em inglês, com uma delicadeza a que não estou habituada,
pergunta-me se não sou familiar de um tal Alvito de Souza. Respondo-lhe em
português que não, que não conheço nenhum Alvito de Souza, que sou neta da
família Rebelo de Maina, a aldeia mesmo ali ao lado. O homem sorri e leva-me
para junto dos outros homens. Explicam-me que conhecem bem a minha família.
Apresentam-se: Rafael Viegas, Dr. Cunha Menezes e José Mascarenhas. Entardece.
A conversa escorre entre nós como se nos fossemos velhos conhecidos. Os goeses
têm uma identidade própria, são a simbiose perfeita entre o oriente e o
ocidente. Mas têm a fragilidade das porcelanas antigas que guardam dentro dos
louceiros de outros tempos. São como a fímbria do mar. Entardece. Lá dentro o
meu pai continua a sua conversa com o padre vigário. Não fala em português, mas
em concanim, língua labiríntica, e inglês, esse linguajar bárbaro e deslavado
que tomou conta destas paragens.
(Janeiro/2007)
Goa
A
tia Maria gostava tanto, tanto do Salazar que lhe chamavam " A favorita de
Salazar"; o meu pai foi deserdado por ter feito um filho a uma preta; o
meu tio Rosário gastava o dinheiro da família porque um Cristo falante lho
dizia para o fazer; o tio Inácio, o irmão mais novo da família esteve quase a
ser castrado, como era costume nas famílias bramanes, para assegurar a sua ida
para o seminário;em Rachol, os anjos do altar têm cabelos negros e há um poço,
fundo e imenso, habitado por morcegos; a terra é vermelha como o sangue; em
Chandor, a sua dama, D. Aida Menezes de Bragança, vive num palácio habitado
pelos fantasmas de outros tempos e, pelas janelas de carepa, espreita o adro da
igreja; em cada casa há um oratório, um presépio e uma estrela iluminada; os
arrozais são de um verde intenso e os palmares estendem-se, infindáveis, junto
às praias; a tia Amália ensinou-me a usar o sari e nunca me senti tão bonita na
vida; em Goa estou em casa.
(Janeiro/2007)
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