Vermelho. Paro no semáforo. Tenho os olhos
inchados. Dói-me qualquer coisa por dentro. Não sei muito bem o que é ou se é
sequer. Mexo com a mão no rasgão da flanela do pijama. Os rapazes do carro ao
lado riem. Ri-se sempre dos imbecis e dos fracos. É suposto ser assim. Olho-os
de volta. Trazem bonés na cabeça. Brincos. Sorrisos. Através do vidro embaciado,
um rapaz moreno diz-me qualquer coisa. É tarde. Que horas são? Verde. Sigo. Dou
voltas. Não sei onde estou. Aqui é o acelerador. Aqui a embraiagem. O travão é
ali. Eu sou esta que está aqui. Chamo-me Ana e não hei-de enlouquecer. Tenho
uma estrela da tarde e um barão trepador. Chego, por fim, à praceta da minha
irmã. Está a chegar. Veste um poncho largo. Parece um anjo branco e tranquilo. Reconhece-me. Entra no carro. Encosto a minha
cabeça no ombro dela. Digo-lhe que estou cansada.