A semana passada, no
alfarrabista da Elias Garcia, encontrei vários exemplares da revista Almanaque.
Actualmente, com excepção de algumas pequenas editoras, da Antígona e da
Relógio D`Água, no geral, fazem-se livros feios, vulgares, de
dimensões pantagruélicas. Até os livros da Tinta da China, que tanta gente
aprecia, me parecem todos iguais, repetitivos, grafia aborrecida e previsível.
Um leitor se quer lavar as vistas tem mesmo que se virar para a edição antiga.
Aí encontrará livros luminosos e sóbrios, com capas do Paulo Guilherme,
do António Garcia, do Sebastião Rodrigues ou do João Câmara Leme. A
revista Almanaque, para além da coordenação do José Cardoso Pires, teve como
responsável gráfico o Sebastião Rodrigues. São revistas únicas. Mal
as vi, perfiladas na segunda estante do novo alfarrabista, desejei que fossem minhas.
Porém, quando perguntei à mocinha pelo preço, para minha surpresa, ela largou o
que estava a fazer e foi inesperadamente teatral na resposta que deu. Saiu
detrás do balcão, ensaiou um passo de dança e, de um salto, montou-se no alazão
de crina dourada que está no meio da loja. Lá de cima, devidamente
escarrapachada no lombo do bicho, explicou-me, com um esganiço de voz, que só
vendiam as revistas por atacado. Duzentos e cinquenta euros pelo conjunto dos
dezoito exemplares publicados. Engoli em seco. Suspirei. Saí. Tive pena de
não ser rica como o meu vizinho Duarte que é militante socialista e tem um
lindo Porshe Carrera. Desde então não penso noutra coisa.
Imagino-me sentada na cama, com dois pacotes de Filipinos, as revistas espalhadas na colcha de floreados que comprei no Ikea. Deleito-me com a
possibilidade de bisbilhotar à vontade cada exemplar, atentar aos
detalhes gráficos, ler os contos, divertir-me com os artigos de floricultura e com as
críticas gastronómicas. Depois de muito pensar no assunto, percebo que só me resta
uma solução: pôr-me à venda. Toda a gente tem um preço e eu tenho o meu. Pelas
revistas, janto, converso, gargalho, molho os lábios num branco muito
fresquinho. Respostas, sff, ao mail anexo a este berloque.