As janelas da casa amarela estão abertas para deixar entrar o fresco do final da tarde. Consigo ver o interior: pesadas jarras de loiça, estantes cheias de livros, molduras com fotografias da criança morta. Nas paredes, imitações de quadros famosos, baratas gigantes, de carapaça brilhante, osgas de patinhas gordas. Tento imaginar a criança morta a brincar com as osgas de patinhas gordas, mas a Florlinda, sim, é a Florlinda, vem a sair da escola. Veste um colete de pele de coelho e traz umas botas de cano alto. Ao ver-me sentada dentro do carro, acena com um sorriso. Não quero que me veja neste estado. Tenho vergonha. Não é uma mulher inteligente, a Florlinda, é aliás burra que nem uma porta, mesquinha também, mas é gentil. Limpo as lágrimas com as costas das mãos, sorvo o pingo do nariz e aceno-lhe de volta.