2010/07/19

Cuba

A notícia tem sido dada com a discrição que as coisas que respeitam ao regime cubano sempre merecem no nosso país. A gente lê as notícias que vão aparecendo, aqui, ali, e sente que quem as escreve o faz contrariado. Os factos são relatados com uma secura que não é habitual. Quem escreve não faz dos homens que chegaram a Espanha heróis nem das mães, mulheres, filhas, que desfilam de branco em Havana, heroínas. Quem escreve não se interessa pelo seu sofrimento, nem simpatiza com a sua causa. Tudo na vida é relativo e os atentados à liberdade só devem ser apontados para promover certas causas. Não se utiliza a adjectivação. É raro explicar-se, preto no branco, as razões pelas quais estes homens foram presos. Os factos são relatados de raspão, sem merecer grande desenvolvimento ou comentário, até porque a Igreja Católica desempenhou um papel fundamental na negociação e a igreja não merece respeito ou apreço (às vezes, reconheço, merece muito pouco). As notícias abordam, por outro lado, a entrevista que Fidel Castro, entretanto, deu. Quase sempre, ao falar de Fidel, os jornalistas falam da sua coerência. Nem outra coisa se esperava. A coerência, em princípio, é uma qualidade. É bom ser coerente. Mas a coerência não é uma virtude que valha por si só. É profundamente desonesto dizer-se que Fidel é coerente. Quem, durante décadas, silencia um país, não é coerente. É déspota, autoritário, manipulador.