2010/09/19

Levitra

Há anúncios de televisão sobre disfunção eréctil. Um casal serôdio ronrona numa cama asséptica. A mulher alegra-se por poder finalmente ser penetrada pelo seu companheiro. No início do verão apareceram pela cidade uns cartazes gigantes sobre ejaculação precoce. As farmacêuticas gastam rios de dinheiro a desenvolver medicamentos que ajudem a erguer os falos moles, uns velhos, outros não, que por aí andam, acabrunhados, encolhidos e tristonhos. A Pfizer inventou o famoso Viagra e a Bayer o Levitra. As disfunções sexuais masculinas merecem a preocupação de muitos. Ainda bem. Desprezo os homens em geral mas não lhes quero mal. Estranho é que pouco se fale das disfunções sexuais femininas. Parece que não existem. Nem as próprias mulheres se preocupam com tal assunto. Para elas o sexo é sempre uma experiência maravilhosa, uma explosão de sensações espectaculares, onde o prazer lhes jorra do corpo, os orgasmos rebentam como petardos e boquinhas em flor, sensuais e jeitosinhas, soltam pequenos gemidos agradecidos. Ter sucesso na cama é requisito essencial para se ser moderna, desempoeirada, bem-sucedida. As mulheres falam de sexo como falam dos filhos, dos jantares de degustação em restaurantes da moda e das viagens que fazem às ilhas gregas. Tudo troféus que demonstram o bem-estar que atingiram na vida. Não há dor na penetração. Nunca há falta de desejo. Não há cansaço. Não há frustração. Não há obrigação. Nem humilhação. No sexo, como em tudo, as mulheres que aguentem.