2013/08/26

Caldo de cenoura

Acordei com a habitual sensação de vergonha e cansaço, picadas na mama esquerda, dores de cabeça e mau hálito. Deixei-me ficar sentada na cama a olhar a criança desconhecida que cavalga uma nuvem de fuligem. Durante a manhã, peguei no processo de um jovem médico, compulsivamente aposentado por sofrer de psicose delirante crónica. Senti-me aliviada por ter uma doença que, avançando com lentidão, me poupa do enxovalho social. Tenho-a há vinte anos, e, na maior parte do tempo, ninguém dá por ela. Ao almoço comi um caldo ralo de cenoura e encalhei na seguinte expressão: capacidade demiúrgica do dizer. Li-a na contracapa de um livro e não a compreendi.