Voltei com o Joaquim. Fazem-me falta os outros. Passei
o dia em limpezas, as minhas mãos estão cheias de cortes, a polpa dos dedos
inchada. Cheiram a lixívia. Preciso de ter a
casa limpa, gavetas ordenadas, roupas lavadas, as madeiras a cheirar a óleo de
cedro. Deitei o Joaquim, mordi-o e lambi-o. Não jantei e bebi duas cervejas no estendal. Lembrei a conversa com a minha
irmã. Contou que a Laurinda, depois do divórcio, bebia muito. Também bebo, bebo
todos os dias, não muito, só o suficiente para largar a minha pele e fingir que
sou outra qualquer. Despi-me para
tomar banho. Vi-me reflectida no espelho do lavatório, nudez morna, corpo escuro, olhos borrados de khol, o cabelo solto, pensei no marroquino do café da aldeia, desejei que me visse naquele instante, a entrar
no banho, mascarada de leda cigana.