2013/08/02

Conchanata

Havia sempre flores frescas nas jarras. O quarto estava limpo, arejado, perfumado. A cama feita com os meus lençóis preferidos. Na fruteira, em lugar de destaque, para que a visse mal entrasse na cozinha, uma papaia madura. Essas pequenas atenções da minha mãe amorteciam o desconsolo do regresso, faziam-me esquecer a liberdade das férias, longe da disciplina do meu pai e da preocupação excessiva da minha tia. Agora sou eu que preparo o regresso dos meus filhos. A Madalena volta hoje do estágio, chega no comboio das onze, frágil, bonita, com os dentes tão tortos. Passei a tarde a arranjar tudo para que se sinta feliz por voltar a casa, a nossa casa: comprei ramos de cravinas, obriguei o Joaquim a fazer um desenho colorido para embrulhar uma tablete de chocolate salgado, há bacalhau com natas no forno, figos no frigorífico, uma conchanata no congelador.