No dia seguinte, a cidade despertou, ignorando a dimensão da
tragédia. Os jovens casais despediram-se com um beijo. Um homem pediu à mulher que
arranjasse beterrabas e repolho no mercado e preparasse um borsch com natas
azedas para o jantar. Uma rapariga levou para a fábrica uma merenda de conservas
de pepino e pão duro. Dois velhos planearam uma pescaria no rio, num recanto
fresco, perto do bosque de abetos, onde nadavam trutas gordas. Uma mulher
apanhou o comboio para Kiev na estação de Yanov e, ao olhar a cidade sentiu,
sem a saber explicar, a imensa solidão dos espaços vazios. A vida continuou como
se nada fosse, a mancha invisível, porém, já se havia espalhado, entrara nas
casas, penetrara nos solos, procurara o coração dos objectos, dos animais e das
pessoas para aí se instalar.