É hoje a consulta com o psiquiatra. Tenho um pó, grande, a psiquiatras, psicólogos e afins. Vai ouvir-me falar durante meia dúzia de minutos. Vou ter que resumir a minha tristeza e solidão em frases contidas, curtas, concisas. Ainda não sei se lhe hei-de falar da frigidez. Não é fácil a uma mulher confessar-se feita de gelo. Depois de me ouvir, o senhor doutor vai dizer que eu estou com uma depressão profunda. Ena, ena. Que novidade. Se calhar, até vai dizer que não sou frígida coisa nenhuma, que em mim há apenas uma diminuição da libido provocada pelo estado depressivo, pela astenia física e psicológica. Em seguida, vai preencher o diário terapêutico com os medicamentos que tratarão a maleita. Há-de lá colocar o cipralex, o xanax e outros. Quase de certeza que também me receitará um laxante. É sabido, ansiolíticos e anti-depressivos provocam obstipação feroz e de difícil alívio. Com sorte, durante a consulta, em vez de um ar pesaroso, o senhor doutor fará um ar descontraído, como que para desdramatizar a situação. E, no final, à despedida, aconselhar-me-á uma lista de terapeutas que eu deitarei no primeiro caixote de lixo que encontrar.