Há um livro do Paulo Nogueira que se chama “O Suicida Feliz”. É um livro divertido, muito bem escrito, que conta a história de um tipo que decide suicidar-se no tanque maior do oceanário. Lembro-me de ler a parte em que ele tenta por cobro à sua vida e rir às gargalhadas. Tenho-me lembrado deste livro nos últimos dias. Porque, apesar de tudo o que passou nos últimos dias, há coisas que me fazem feliz: ter comprado a assinatura para ver a Mostra Internacional de Teatro faz-me feliz (maravilhosa, a adaptação que a Companhia Nacional de Teatro Clássico de Madrid faz do D. Duardos de Gil Vicente); saber que, no âmbito dessa mostra, ainda tenho tantas peças para ver faz-me feliz; almoçar com a Mila nas arcadas do teatro num sábado fosco e tristonho faz-me feliz; falarmos sem parar durante horas faz-me feliz; ter descoberto a escrita da Clarice Lispector faz-me muito feliz; ter um blog para poder insultar a Mafalda Ivo Cruz que escreve cona, depois de divagar sobre o prelúdio de Tristão e Isolda, faz-me feliz; escrever, ainda que com dor, faz-me feliz; ver a Madalena sair no dia do seu aniversário toda janota com um vestido de cerimónia e havaianas nos pés faz-me feliz; ter o João, sempre o João, que tem o sorriso mais bonito do mundo, faz-me feliz; olhá-los enquanto dormem faz-me feliz. O resto que se foda.