A menina da caixa, uma brasileira de pele leitosa, sardenta e sorridente, chamou-me senhorita. Quer café, senhorita?, foi assim que ela disse. E continuou, freneticamente, dedilhando a caixa registadora. Uma mulher, de óculos quadrangulares vermelhos e cabelo cor de palha, a quem a brasileira sorridente, momentos antes, chamara senhora, olhou-me com desprezo. Havia de ter cinquenta anos, por aí, e via-se, pela maneira de vestir e maquilhar, pelo cheiro do perfume que usava com parcimónia, que era uma mulher bem sucedida. Usava uma mala Furla cor de laranja e trazia o Currier Internacional debaixo do braço. O desprezo do seu olhar ficou a pairar durante vários segundos no ar. Depois enfiou-se pelos buraquinhos dos meus poros e preencheu o vazio que trago nos ossos.
(As mulheres não gostam mesmo nada de envelhecer).
(As mulheres não gostam mesmo nada de envelhecer).