2008/05/26

Berlusconi

Tenho um tio que me faz lembrar o Sílvio Berlusconi. É igual. Pinta o cabelo, tem olhos pequeninos de animal fedorento, não tem pestanas, nem pálpebras. É sinistro e arrepiante. Fujo dele cada vez que o encontro num jantar de família. Ao seu jeito, é também ele um magnata. De Sacavém ao Catajul, de Odivelas a Camarate, os seus negócios prosperam. Tem oficinas de automóveis, lojas de material eléctrico, uma pastelaria e dois talhos. Constrói prédios em São João da Talha. As casas, espaçosas e com bons acabamentos, têm vistas privilegiadas para a auto-estrada do norte. Sustenta há vários anos uma amante quase nova que o ama na exacta proporção dos presentes que recebe. É justo que assim seja. O amor não se deve desperdiçar com insignificâncias. Tem, entre outras viaturas, um imenso Jaguar preto, de estofos brancos, artilhado disto e daquilo, que não sabe conduzir. Há ainda outra característica que o aproxima do Berlusconi: apesar de pouco inteligente tem a prosápia, a vaidade, o insuportável à vontade que o dinheiro sempre proporciona.