2008/05/20

África do Sul

Na África do Sul, pelo menos 24 imigrantes morreram, desde sexta-feira, na sequência de ataques de gangs de jovens. No sábado, no bairro de Cleveland, espancaram até à morte cinco imigrantes e queimaram vivos, outros dois. Os imigrantes chegam de Moçambique, do Malawi e, sobretudo, do Zimbabué. Procuram na África do Sul uma esperança de vida. Espera-os a desconfiança e a violência. Há, sobre o assunto, dois ou três pontos que retenho. Primeiro, como dizem por estes dias os editoriais dos jornais sul-africanos, Thabo Mbeki está a colher os frutos da sua cobardia. Incapaz de criticar Mugabe, o triste Che Guevara africano, é, em parte, também ele responsável pela ruína de um país que, até há alguns anos atrás, tinha níveis de desenvolvimento satisfatórios. Os imigrantes zimbabueanos, que agora são mortos, fugiram do país que o silêncio do presidente sul-africano ajudou a criar. Em segundo lugar, há quem queira ver no sistema do Apartheid a origem da xenofobia sul-africana. O Apartheid, dizem, teria afastado a África do Sul do resto do continente, criando nos sul-africanos sentimentos xenófobos. Cá está, mais uma vez, a pior forma de racismo: a visão paternalista do outro, a desresponsabilização do outro. Os negros sul-africanos não matam os imigrantes moçambicanos e zimbabueanos por distantes sentimentos de isolamento incutidos pelo Apartheid. Os negros sul-africanos matam os negros moçambicanos e zimbabueanos por motivos mais prosaicos. Acham que estes ficam com as suas casas e usurpam os seus empregos. Por fim, resta dizer que, comparada com a brutalidade dos ataques na África do Sul, a xenofobia europeia, que se disfarça com discursos, que se artilha de argumentos, que usa botões de punho, que muitas vezes tem representação parlamentar, que mói, mas raramente mata, parece aceitável, quase inócua. Não é.