2011/06/20

Outra

Vinha a sair da estação, de vestido branco, confiante, as pernas bronzeadas do sol, a peitaça enfiada num wonderbra, empinada e postiça, o rabo firme de tantos agachamentos feitos nas aulas de ginástica, a frustração, o remorso, o cansaço como se não existissem. Vinha assim, como se fosse outra, a sentir-me bem, quando a ponta das minhas sandálias de camurça ficou presa na grelha de um respiradouro. Estatelei-me no chão. Fiquei de gatas na queda. Uma rapariga de unhas de gel, esboçou um sorriso, feliz com a minha humilhação. Foi o negro que costuma estar a distribuir papelinhos do professor karamba quem me levantou. Agradeci-lhe. Larguei a outra, peguei em mim, e, manca, caminhei até ao edifício onde trabalho.