2011/06/01

Torel

A caminho, apercebi-me dos anos que passaram desde a última vez em que lá estive. Como é possível ter estado tantos anos sem lá ir? Temi que o lugar estivesse diferente: o arvoredo composto, flores postas em cachos de cor de acordo com as instruções de uma qualquer arquitecta paisagista, tubinhos de irrigação nos canteiros como serpentes mortas, candeeiros modernaços, um parque infantil de estruturas ergonómicas e coloridas no lugar da fonte velha, meninos brincando, felizes. Temi que, à semelhança de outros espaços, o jardim tivesse sido objecto de requalificação. Já não encontraria velhos moendo-se, ao sol, com o jogo da sueca, nem bichos-de-conta gigantes, nem musgo, nem verdete, nem sentiria o cheiro da sebe de buxo aparada. Sobretudo, temi, não me encontraria, pequena, um anelzinho de prata no dedo, as unhas roídas, sentada nas raízes de uma árvore, comendo croquetes de carne. Temi que o jardim da minha infância se tivesse tornado num lugar vivo, eu que gosto dele morto.