O Joaquim tem um Fábio André, um Márcio e um Rúben Miguel na turma.
A mãe do Márcio é uma rapariga nova que usa um pearcing na língua. É preciso ignorar os castanheiros da índia, os choupos outoniços largando folhas pelo chão, é preciso ceder à tentação de espreitar as marquises que se debruçam sobre o recreio da escola - ali um quadro espelhado do pierrot e da columbina, ali um homem velho fumado à janela - e olhar a rapariga com atenção. Quem assim a olhar notará que, no preciso instante em que, no portão da escola, passa o filho para as mãos da auxiliar, enche os pulmões de ar, contrai o diafragma, retém a respiração por breves segundos, depois, liberta o ar pelo nariz com um ruído que mal se nota. Respira fundo. É de alívio que a rapariga respira. Entre o momento em que deixa o filho na escola até à hora a que o vai buscar volta a ser uma simples adolescente, pode passear com as amigas do bairro, mandar mensagens de telemóvel, marcar encontros à porta do centro comercial.
O pai do Fábio André é um homem gordo e suado. Trabalha no talho que fica numa das pracetas perto da escola. Já o vi de bata ensanguentada, mãos ferruginosas de desmanchar carcaças, fumando um cigarro à porta do talho. Tem um touro tatuado no braço que larga um bafo muito quente. Uma pessoa passa pelo touro tatuado e amedronta-se com o olhar furibundo do bicho. Os olhos do talhante são diferentes, olhos mansos de animal já morto.
Há também o pai do Rúben Miguel, seco, anda sempre de mãos nos bolsos e usa um brinquinho. É, no seu género, um homem atraente, apetecível, de cabelo grisalho, um príncipe, ali, nas torres e pracetas do bairro. Costuma vir sozinho trazer o filho à escola. Por vezes, porém, vem com a mulher, uma loira baixa, muito magra, os ossos ilíacos salientes espreitando por cima do cós das calças. A mulher, nota-se no modo como sorri, na gentileza do seu corpo que se abre como uma flor, ama o marido. Deseja-o. O homem, porém, gostaria de lhe fugir. Quando a encontra, ao final do dia, deitada na cama, sorrindo-lhe, puxando a colcha para trás, mostrando-lhe o corpo frágil, os ossos ilíacos que o magoam, pedindo-lhe a que ame e proteja, tem vontade de pegar numa almofada e sufocá-la lentamente.
A mãe do Márcio é uma rapariga nova que usa um pearcing na língua. É preciso ignorar os castanheiros da índia, os choupos outoniços largando folhas pelo chão, é preciso ceder à tentação de espreitar as marquises que se debruçam sobre o recreio da escola - ali um quadro espelhado do pierrot e da columbina, ali um homem velho fumado à janela - e olhar a rapariga com atenção. Quem assim a olhar notará que, no preciso instante em que, no portão da escola, passa o filho para as mãos da auxiliar, enche os pulmões de ar, contrai o diafragma, retém a respiração por breves segundos, depois, liberta o ar pelo nariz com um ruído que mal se nota. Respira fundo. É de alívio que a rapariga respira. Entre o momento em que deixa o filho na escola até à hora a que o vai buscar volta a ser uma simples adolescente, pode passear com as amigas do bairro, mandar mensagens de telemóvel, marcar encontros à porta do centro comercial.
O pai do Fábio André é um homem gordo e suado. Trabalha no talho que fica numa das pracetas perto da escola. Já o vi de bata ensanguentada, mãos ferruginosas de desmanchar carcaças, fumando um cigarro à porta do talho. Tem um touro tatuado no braço que larga um bafo muito quente. Uma pessoa passa pelo touro tatuado e amedronta-se com o olhar furibundo do bicho. Os olhos do talhante são diferentes, olhos mansos de animal já morto.
Há também o pai do Rúben Miguel, seco, anda sempre de mãos nos bolsos e usa um brinquinho. É, no seu género, um homem atraente, apetecível, de cabelo grisalho, um príncipe, ali, nas torres e pracetas do bairro. Costuma vir sozinho trazer o filho à escola. Por vezes, porém, vem com a mulher, uma loira baixa, muito magra, os ossos ilíacos salientes espreitando por cima do cós das calças. A mulher, nota-se no modo como sorri, na gentileza do seu corpo que se abre como uma flor, ama o marido. Deseja-o. O homem, porém, gostaria de lhe fugir. Quando a encontra, ao final do dia, deitada na cama, sorrindo-lhe, puxando a colcha para trás, mostrando-lhe o corpo frágil, os ossos ilíacos que o magoam, pedindo-lhe a que ame e proteja, tem vontade de pegar numa almofada e sufocá-la lentamente.