2013/07/10

Sal do deserto

Hoje, à hora do almoço, deitei-me com um homem e lambi-o. Não gostei do homem nem do sabor do seu suor, asséptico, com um ligeiro travo a bolor e medicamento. Na casa de banho, enquanto me arranjava, bochechei a boca com água e cuspi. Como se estivesse no dentista. Ao olhar-me no espelho, lembrei-me da rosa do deserto que a Cilinha, minha madrinha, costumava guardar na cómoda do seu quarto. Feita de areia e sal, de uma cor muito bonita, misteriosa, foi objecto que durante anos exerceu sobre mim um fascínio muito grande. Sempre que visitava os meus padrinhos no apartamento de Benfica, corria ao quarto deles, procurava a rosa do deserto e ficava a olhá-la. Depois encostava a flor de pedra à boca para sentir nos lábios o sabor do deserto. Hoje, ao olhar-me no espelho, depois de lamber a pele de outro homem, percebi finalmente ao que sabe o teu corpo: ao sal do deserto.