2016/01/14

Óleo de romã

Fiz tudo o que faço antes de me deitar. Tomei banho, lavei os dentes e limpei o rosto. Apliquei com movimentos circulares um creme anti-envelhecimento que comprei numa perfumaria há pouco tempo. Foi caro, mas não resisti ao anúncio que passa na televisão: mostra uma mulher bonita, sorrindo. Nos segundos finais, enquanto o corpo da mulher é apertado num abraço, uma voz assegura que o creme, feito à base de extractos naturais de óleo de romã, promove o rejuvenescimento da pele. O que uma mulher viveu não tem de ficar marcado no corpo, apenas na memória, é o que diz o anúncio. É mentira, mas não há nada a fazer. A vaidade das mulheres sempre favoreceu o engano. Sei que tudo o que vivi, tudo o que ainda viverei, ficará marcado na minha pele, em cada ruga, cada sulco, cada mancha. O meu corpo apresenta as marcas próprias da idade que tem, mas o envelhecimento, este que agora começou, parece ser um segredo vergonhoso. Quero envelhecer devagar. Por isso, apesar de não acreditar nos efeitos visíveis após oito semanas de aplicação, todos os dias uso o creme de óleo de romã.