2007/10/31

Rauschenberg

No Contraditório de sexta-feira, o Carlos Magno recomendou, com entusiasmo, a exposição do Rauschenberg em Serralves. Eu gosto do Carlos Magno, da análise política que faz, escuto-a com atenção, do amor que tem ao Porto, gosto até daquele jeito meio pedante de se achar amigo de toda a gente e de fazer citações brilhantes por tudo e por nada. Porém, tenho a sensação de que ele aprecia a arte contemporânea do Rauschenberg tanto quanto eu. A verdade é que se fosse uma exposição de bufas malcheirosas aprisionadas em frascos bojudos de vidro de um qualquer artista consagrado, o Carlos Magno também no-la recomendaria. O que releva para ele, e para muita gente, é a consagração, o reconhecimento dos pares, a validação da arte pelos prémios, pelas análises dos entendidos, pelas notas dos críticos. Eu percebo pouco de arte, mas apoquenta-me que haja quem goste de tudo o que nos dizem para gostar e contabilize idas a galerias e museus como quem cumpre uma obrigação. O que interessa, acho eu, é olharmos um determinado objecto, uma instalação, uma tela, uma peça qualquer, e sermos capazes de nos maravilhar sem saber sequer porquê, imunes à importância cultural da obra e do autor. Como quando se topa pela primeira vez com o azul do Klein. É só uma cor, uma só, mas que cor! E eu nem gosto de azul. Ou como quando se entra nas florestas e cidades labirínticas de aço do Richard Serra. A princípio, desdenhei, bufei mesmo, disse-lhe olha para esta merda gigante, mas tu já viste esta palhaçada, depois amainei e juro que escutei, nos bosques de aço, o eco das ninfas, fugindo da ira taurina da deusa Hera. A arte de papelão e desperdício do Rauschenberg não me diz nada. Nadinha. Não gosto. É um bocado pindérica. É. Acho deplorável que a obra dele conste do acervo que a NASA leva a passear pelo espaço, entre estrelinhas, luas e poeiras cósmicas.