2007/10/15

Supermodernizar

Entro na livraria do costume. Descubro que o Urbano Tavares Rodrigues tem um romance chamado Eterno Efémero. É um título bonito. Folheio-o. Às tantas, numa página qualquer, uma surpresa. Endereços electrónicos. Primeiro, a descrição de uma troca de mails entre desconhecidos. Depois, conta-se um encontro marcado no Picoas Plaza. Cerro imediatamente o rosto. Franzo-me. Torço o nariz. Não gosto disto. Demasiado concreto. Demasiado banal. Demasiado desinteressante. A temática poderia ser abordada, certamente já foi, pela corja de novos escritores merdosos que por aí se publica. Volto a colocá-lo no escaparate. Utilizando a terminologia buarquiana, que fica sempre bem, direi: Urbano, ouve o que te digo, nem toda a gente tem capacidade de se supermodernizar. Às vezes, quase sempre, são patéticos os velhos que, como tu, insistem em se supermodernizar. (Essa moça tá decidida a se supermodernizar/ Ela só samba escondida que é para ninguém reparar./ Faço-lhe um concerto de flauta e não lhe desperto emoção./ Ela quer ver o astronauta descer na televisão.)