Procurava
uma palavra. Sentia cansaço, fome, o dia findo lá fora. Escurecera de repente e
só o ecrã do computador brilhava no apartamento. Aninhas sentiu-se triste,
aflitivamente só. Minimizou uma janela, maximizou outra. Procurou o filme do
beijo nipónico. Deixou-se estar muito quieta a vê-lo. Duas jovens japonesas, de farda colegial, corpos óbvios, fecundos.
Trocaram algumas palavras e começaram a beijar-se. Um beijo húmido, secreto.
Aninhas baixou o volume para que os gemidos não se ouvissem no patim das
escadas. Depois, despiu a camisa e libertou-se do sutiã. Humedeceu os dedos e
tocou nos mamilos, sentiu-os firmes, cheios, teve vontade de os morder. Abriu
ligeiramente as pernas e meteu a mão dentro das calças. Não tardou a sentir um orgasmo silencioso, bom, incapaz, porém, de
suspender a realidade. Voltou a vestir a camisa, compôs o cabelo. Olhou em
volta, por todo o lado, sinais de rotina, os chinelos do marido, a taça de
gelado que o filho deixara em cima da mesa, os dois pretos de madeira que a
empregada insistia em colocar no rebordo da estante. No ecrã, as colegiais
japonesas continuavam a beijar-se. Aninhas deixou-se estar a olhá-las durante
algum tempo, novamente fria, corpo feito pedra. Levou a mão ao nariz e, na
ponta dos dedos, sentiu o seu cheiro, um cheiro adocicado, irritante,
previsível, a lembrar calor, pedaços de jagra escura, passeios cheios de lixo.
Ajeitou o corpo na cadeira e continuou a escrever.