2013/07/09

Linfoma

É doloroso ler o que escreves, explicou ontem a minha mãe ao telefone. Escutei-a em silêncio e pedi-lhe desculpa. À noite, deitada na cama, o Joaquim muito transpirado, enrolado nas minhas pernas, dei com esta passagem no livro do Vergílio Ferreira : “Mentalmente pensei, bócio, linfoma, seria ele ainda? Estava sentado no passeio, uma caixa de esmolas ao lado. Seria já um seu descendente? Seria talvez um seu antepassado que viera vindo através de gerações até chegar ali com o seu saco de pelicano suspenso do queixo. Perguntei-lhe se ele era de Coimbra, ele disse-me o senhor compreende, lá já ninguém me ajudava por já estarem habituados à minha desgraça. E eu compreendi. Porque uma desgraça, como tudo, vai perdendo o ser com cada vez que se vê e o ver lho come.” Li e percebi que a minha tristeza é tal qual o aleijão do pelicano de que fala o escritor. De tão assumida, escancarada, exposta, perdeu impacto, tornou-se banal. É simplesmente maçadora. Não devia impressionar ou preocupar ninguém. Faz parte de mim.