Conheço o seu cheiro, um cheiro autêntico, de cabedal, de
pele curtida. O seu toque é lento, contido, certeiro. Certa vez, no
jardim da Feira da Ladra, pegou na minha mão e beijou-a. Um beijo discreto, mas sensual. Nesse instante, senti uma vertigem, tornei-me líquida, desejei
intimamente que me tomasse ali, num banco de jardim, à vista dos velhos que
jogavam à sueca. Atravesso-me agora na cama, deito a cabeça sobre a virilha esquerda do
Alexandre. Sinto o seu sexo pousado sobre o meu rosto. Dá-me pancadinhas ligeiras.
Penso: “Aqui estou, num quarto de pensão,
com duas grandes janelas a dar para o casario da Baixa, deitada com o homem que
me beijou a mão no jardim da Feira da Ladra”. Olho novamente o pénis. Pulsa
como se tivesse vida própria. Cheiro-o, humedeço as pontas dos dedos com saliva
e toco a glande, macia, frágil. Desço a mão pelo frisado do prepúcio recolhido,
agarro o fuste. Sinto um pulsar de bomba. Inclino-me, enfio por fim a ponta da
minha língua no meato. Sabe a sal e os nervos das comissuras parecem linhas
repuxadas. Encho a boca. Pouco depois, amarinho pelo corpo do Alexandre. Sopro-lhe
uma frase ao ouvido e viro-me de costas.
-Nunca quiseste fazer assim…
- Experimentei há pouco tempo e gostei.
O Alexandre entra
tranquilamente dentro de mim, percebo que se esforça para não me magoar. Ficamos
deitados, um sobre o outro, mal nos mexendo. “Desconcertas-me, Ana, excitas-me, se me mexo venho-me”. A sua mão
procura-me entre as coxas, no emaranhado dos meus pêlos muito negros e ásperos.
Começo a gritar. Não sei porque o faço. É a primeira vez que grito na cama. E se
a mulher da farda puída bater à porta? Uma vez, na feira de Grândola, ao andar
no Twister Gigante, também gritei assim. Sinto vergonha por estar aos gritos, mas
não os consigo controlar. O Alexandre continua a tocar-me. Tenho um orgasmo bom, muito diferente do que é habitual.