2009/10/14

Jezibela

Dou a mão à palmatória: chateou-me um pouco, só um pouco, o último Mia Couto. O livro é um encanto enquanto só são dois homens, outro que vem de quando em quando, dois meninos e uma burra chamada Jezibela. Depois, aparece uma mulher branca, chamada Marta. Como todas as mulheres brancas não tem competência para amar. O marido deixou-a pela quentura africana. A partir desse momento, em que, através da mulher branca, o mundo chega a Jesusalém, tudo se perde. O romance ganha densidade, o leitor começa a perceber a história, mas qualquer coisa se estilhaça. Perde-se a primeira loucura que é assim uma espécie de primeira inocência. O amor de Silvestre Vitalício pela burra - toma-a aos domingos, depois de se pentear e perfumar – é mais comovente do que tudo o resto. Tive pena quando morreu. Era uma burra tão doce e terna. Podia chamar-se Dordalma. Por desfastio vou ler um dos muitos livros da Agustina que ainda não li. Ainda bem que ela escreveu tantos. Desde domingo, quando escutei o Pedro Mexia e a Inês Pedrosa falar da escritora como se a conhecessem intimamente, por dentro, do avesso, que tenho vontade de a ler. Os candidatos a escritores, sobretudo as candidatas a escritoras, que enchem folhas de aborrecidos delírios femininos – também eu, às vezes, o faço; depois ganho juízo e esbofeteio-me até sangrar - deviam ser obrigadas a ler-lhe os livros. Poderiam assim perceber alguma coisa do que é isso de se nascer mulher e deixar o mundo em sossego.