Apanhei um táxi para a rua do Quelhas. O motorista cheirava a corpo mal lavado. Trazia a roupa muito usada. O suor de muitos dias entranhado nas fibras de poliester. O cabelo comprido, oleoso, com crostas grossas. Cheirava a miséria, a corredores sombrios, a quartos alugados ao mês, cheirava a ninhos de baratas, a ratos cegos e pelados correndo nas entranhas do prédio em ruínas. Cheirava a noites de solidão. Cheirava a dias de solidão. As noites de solidão são medonhas. Mas são toleráveis. Piores, muito piores, são os dias de solidão. Lembrei-me de um conto que li, há alguns dias, de Tchecov.
(Também gosto das Variações Golberg. Gosto mais das Tocatas.)
(Também gosto das Variações Golberg. Gosto mais das Tocatas.)